domingo, 30 de dezembro de 2012

Mundo animal


Esculturas de Eliana Kertész



Macacos não possuem a linguagem articulada, nem o polegar oponível aos outros dedos da mão, mas são muito mais instruídos, educados e civilizados do que os seus parentes humanoides urbanos, os chamados pré-macacos.

Macacos não sujam de urina e cocô o caminho por onde andam, não jogam lixo na rua, não ateiam fogo na mata, nem vandalizam corpos minerais, vegetais, animais e culturais. Com o seu meio ambiente, macacos vivem em harmonia e paz.

Em um dos caminhos da Casa da Aranha, precisamente o que vai do alto do Outeiro da Gameleira, na ilha de Itaparica, até as imundas areias da praia, não circulam os macacos. Todo desastre e imundície ambiental é obra dos pré-macacos.

Às vezes, nesse caminho, vêm-se formigas inadvertidas levando para o seu ninho fezes de pré-macacos, fartamente encontradas por ali. No dia seguinte, as formigas bombeiras passam o dia ocupadas em retirar todo esse veneno orgânico do formigueiro, para livrar o seu mundo de uma hecatombe colossal, causada pelos gases letais desse asqueroso produto animal.

Mas, acima de tudo, macacos em liberdade estão livres do desastre da primeira grande guerra realmente mundial, que já dura mais de 100 anos.

É uma guerra sem trégua do sistema capitalista contra toda a humanidade, que extermina centenas e centenas de milhões de pessoas e de pré-macacos, deixando mutilada e deformada praticamente toda a população sobrevivente do planeta.

Há mais de 100 anos, a indústria química, a indústria farmacêutica e a indústria de alimentos e bebidas apontam dois tubos bélicos na direção da humanidade. Por um desses tubos elas sugam o sangue, o suor e a vitalidade das pessoas, deixados no dinheiro, que elas transformam em lucro crescente.

Pelo outro tubo, essas indústrias injetam hormônios e outras drogas tóxicas sintéticas, líquidos e alimentos nocivos, envenenam os mananciais, inflam a humanidade como se enche uma bola de soprar, fazendo desaparecer as cinturas, dilatando as barrigas, os peitos, as bundas, modelando gente no formato das bonecas de Eliana Kertész, levando ao colapso o sistema imunológico dos seres humanos e dos outros animais domésticos. E todo esse lixo tóxico não eliminado pelo organismo fica encasulado nas células do corpo, provocando a sua degeneração.

O resultado é o aumento desesperador de mortes prematuras provocadas pelo câncer, por outras doenças degenerativas e por doenças auto-imunes. Enquanto não morrem, as pessoas mutiladas, atingidas por essa guerra, arrastam-se obesas e deformadas pelos caminhos dos campos e das cidades.

Sócios dessa guerra, seja com a ingestão gulosa de propinas, ou com as verbas de veiculação de publicidade, volume publicitário que corresponde a mais de 75% de toda propaganda veiculada no mundo inteiro, os políticos capitalistas governantes e a livre imprensa capitalista são livres também para ocultar, omitir e destorcer as informações passadas para as pessoas.

Vemos, por exemplo, na grande imprensa patronal, vários e vários artigos tratando da epidemia de obesidade como se ela fosse uma questão meramente genética. Caso isso fosse verdade, os seres humanos descenderiam de apenas dois grandes troncos genéticos globais: os vegetarianos comedores de maçãs, descendentes da escultural Eva e do apolíneo Adão e os carnívoros rechonchudos, filhos de Mamãe e de Papai Noel, casal que curte alucinadamente Coca Cola Zero casadinha com um apetitoso Big Mac com batatas fritas.

Governos não alertam a população das causas desse perigo e a imprensa patronal nada publica, ainda que seja para contestar a gravíssima denúncia feita por Randall Fitzgerald em seu livro 100 anos de mentira, banido das livrarias.

O mais terrível é que até os 90 anos de idade todas as pessoas usuárias de drogas farmacológicas, de bebidas e de alimentos industrializados e expostas à devastação tóxica do agro negócio terão algum tipo de câncer e morrerão dessa doença. Dr. Osvaldo e Roberto sabem disso.

Agora, todos vós entre os mais crédulos estarão tentados a nos dizer: “Ouvis estrelas alarmistas conspiratórias anticapitalistas”. E nós com a nossa autoridade de vegetarianos saudáveis, na medida certa e dentro do peso, não usuários de drogas, distantes e protegidos contra os males provocados por essa grande guerra mundial capitalista, vos diremos, “vivei e vigiai para entendê-las, pois nem só quem tem olhos e ouvidos bem atentos e sarados é capaz de ver, ouvir e de entender estrelas”.


domingo, 23 de dezembro de 2012

Estado de graça




Na minha estréia como avô
Não vivi as dores do parto,
Nem os amores da gestação.

O meu primeiro dia de avô
Foi suave e lindo
Como o pouso da jandaia
Num galho de aroeira.

Sofia chegou para mim
Com o seu sorriso lindo,
Abriu-me os braços numa tarde de sexta feira
E fomos de mãos dadas fazer yoga no jardim

Na tranquilidade desse primeiro momento,
Espero por Gabriel ou Patrícia
Com a infinita alegria da gestação
E a mãe, o pai, os outros avós e eu
Saberemos transmutar qualquer dor em sorriso
E de cada sorriso fazer um céu
Quando chegar a hora de receber e abraçar
Patrícia ou Gabriel.



sábado, 15 de dezembro de 2012

Crônica de uma tragédia recorrente.




Por Anya Achtenberg
(Tradução de Luiz Eladio Humbert)


A
heartfelt comment about the tragedy in the school in Connecticut./Um sofrido desabafo sobre a tragédia na escola em Connecticut.



Este horror agora ... tantas e tantas crianças. Eu não posso ajudar, mas pensando que, se você vai para baixo para as camadas mais profundas do script deste país, a história se repete, você encontra a violência no âmago. Se você sair, seguir as estradas visíveis e as invisíveis, da teia de aranha, para o momento presente em todo o mundo, você também encontra a violência no âmago, que, em algumas partes significativas e de alguma forma, é financiada por este país.


Como isso não poderia deixar de vazar em um milhão, em infinitas formas, em grandes e pequenos. Triste, também, é que podemos presumir que o atirador é branco, porque a cor de sua pele não foi revelada.


Este horror, esta terrível perda de tantas vidas e, oh, tantos pequeninos no tiroteio na escola em Connecticut, dizem na mídia que é um choque, a psicóloga diz que eles devem voltar ao normal o mais breve possível. Mas o que dizer das crianças, dos pais, cujo "normal" é de terror e de perda, assassinato, tortura, atentados, mutilações, estupros, escravidão sexual? O que eles devem fazer? Um repórter repetiu, como disseram em 9/11, que nunca houve um ataque à "nossa terra".



Eu compreendo este nosso, este nós, para excluí-los. Wounded Knee (*) e todo assalto genocida que o precedeu. O ataque de 1920 feito por brancos contra a comunidade negra de Greenwood, em Tulsa. A destruição de muitas comunidades pobres e de vilas de operários só para fazer beleza para os ricos. Linchamentos. A guerra constante contra mulheres e crianças. O ataque que veteranos do Vietnam trouxeram para casa. O ataque total sobre os direitos, os corpos e as mentes dos membros da comunidade GLBT. Ataques contra imigrantes. Há ataques em nosso solo a cada dia. Uma lista desses ataques seria infinita, de assassinatos, de estupro e de danos consideráveis, tanto os conhecidos, quanto os desconhecidos. Para se dizer que nunca houve um ataque a nossa terra, quantos de "nós" se deve excluir?



Eu lamento por você, sonolenta cidade da Nova Inglaterra, eu lamento por você no meu intestino, porque o insuportável aconteceu. Mas o tecido desta perda nos cobriu inteiro, desde o primeiro golpe, e continua. O sangue flui sem cessar. Será isso terrível de se dizer? Ou será este o meu milionésimo recurso contra a amnésia histórica, contra a nossa cegueira em relação ao outro mundo ao nosso lado, além dessa ou daquela fronteira. Cegueira desses que olham prescindíveis para aqueles que dizem "nós nunca experimentamos ou esperávamos por isso ...". Este mundo sangra e esse sangramento deve ser contido ou cada órgão, cada célula desse mundo conhecerá a doença, a agonia, a perda, o horror e a morte.


Tudo isso é insuportável, essas crianças, essas famílias destruídas, a cidade em estado de choque, toda criança temendo a escola, tudo isso é insuportável. Sinto muito dizer tudo isso, desculpe-me por dizê-lo. Desejo força a todos os enlutados e para todos nós.



(*) Wounded Knee é o nome do hediondo massacre de indígenas americanos pelos descendentes de brancos invasores europeus "civilizados", em 1890, em  Dakota do Sul. (Nota de Érica Weick)


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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O liberalismo em chamas.



Um fantástico conto de Jorge Amado, A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, obra sempre atual, universal, verdadeiramente eterna, é o espelho do que hoje vai pelo mundo.

A morte e a morte de Quincas Berro d’Água conta a estória de parasitas degenerados bebedores de pinga, todos eles vigaristas, punguistas, gigolôs, batedores de carteira, inconformados com a morte de seu mais querido amigo, o personagem central das melhores aventuras burlescas, invadem o velório de Quincas, retiram o corpo do caixão e saem com ele pela cidade em mais uma de suas farras memoráveis.

Na vida real a estória se repete na pele dos homens mais ricos de todos, parasitas gananciosos, viciados em beber o nosso suor e o nosso sangue, gigolôs da terra e do trabalho, vigaristas, punguistas, batedores de carteira, que saem arrastando pelas ruas do mundo o corpo decomposto do capitalismo, pelos antros nojentos da mídia patronal.

Os parasitas de colarinho branco têm horror ao socialismo, principalmente ao novo socialismo que acolhe a iniciativa privada dos ricos honestos, eficientes e sem usura.

Antes da Internet, a grande mídia capitalista ditava o que pode e o que não pode ser publicado e o quanto ainda temos que pagar por isso. Era o apogeu do sistema, que tem a força da selvageria no seu DNA.

Mas hoje existe a plenitude da liberdade de expressão, porque, diante do fato, é o cidadão que faz a notícia, registra a imagem, ele mesmo publica e ninguém paga nada para ficar sabendo disso.

Pelo poder da seleção natural, os ricos de visão estão investindo pesadamente no socialismo da rede mundial, pagando fortunas por sites de relacionamento e o seu lucro não vem mais de mãos metidas em nosso bolso, mas tão somente do dinheiro pago pelos anunciantes.

Hoje Karl Marx diria feliz aos seus botões: “enfim os cidadãos do mundo estão unidos”.

Com o neoliberalismo ardendo em chamas, os mais ricos de todos, em sua derradeira orgia, vão fazendo suas guerras, ocupando países, catando petróleo em terreno alheio, cobrando dívidas impagáveis, arrastando o cadáver do capitalismo pelas ruas do mundo.

E a palestina sitiada recebe a solidariedade do planeta, enquanto o Estado de Israel, o IV Reich, apropria-se do que é dos outros, expropria o dinheiro palestino, invade territórios de vizinhos indefesos, assassina seus irmãos muçulmanos, só porque os banqueiros mais ricos do mundo, os donos do Federal Reserve (FED), impressores e controladores do fluxo da moeda global, não são palestinos, são judeus.  

E Israel, o IV Reich, prossegue na sua desumana, sangrenta e suicida orgia, arrastando, se inspirando e se espelhando no cadáver FEDorento do nazicapitalismo de Washington, Londres e Berlim.


sábado, 1 de dezembro de 2012

A lavagem suprema.



Prólogo:

Plutocracia é o governo do grupo mais rico, para o grupo mais rico e pelo grupo mais rico. Na prática, plutocracia é governar para o grande capital, para a moeda e para o mercado, de modo a proteger o patrimônio dos mais ricos, garantir-lhes a acumulação de riqueza e assegurar o lucro insustentável, na base do custe o que custar, isto é, na base da completa desvalorização do trabalho e da degradação do meio ambiente.

Até a mal chamada Revolução Industrial, a plutocracia lidava com uma economia global muito simples, que se resumia a atividades mercantis, envolvendo produtos agrícolas, produtos artesanalmente manufaturados e minérios.

Com o advento da Revolução Mecânica, decorrente da invenção e do uso em larga escala da propulsão à vapor, as atividades mercantis, os bens comercializados e as relações de produção tornaram-se mais complexas.

Pedindo desculpas aos mais devotamente fanáticos, usaremos uma santa imagem bíblica para ilustrar esse diabólico processo de transformação do mundo, após a idade média.

A sacrossanta Revolução Mecânica, concebida sem pecado original pela casta e virgem propulsão à vapor, deu à luz a redentora industrialização, fato ou feto que induziu a plutocracia – uma espécie de prima muito mais velha de tudo – a gestar, parir e criar o liberalismo econômico, o chamado capitalismo, para batizar o mundo com o espírito de uma nova era.

A lavanderia STF:

Agora acompanhemos com atenção o que está acontecendo por aqui e por ali, nesses últimos tempos.

Espoliado pelo sistema neoliberal, tanto o velho elitista, quanto o novo populista, o Brasil vive acorrentado ao atraso, por meio de uma política econômica de país pobre, pré-industrial, cem por cento colonial, para que os mais ricos gigolôs da superfície e do subsolo da magnífica terra brasileira lucrem mais e acumulem sempre mais, com a exportação de minérios e de produtos agropecuários, enquanto a população, alienada e mal instruída por imposição do sistema, continue vivendo na barriga da miséria, com todo orgulho de ser brasileira, comendo o pão que o diabo amassou e assistindo  muito circo mambembe.  

Durante o chamado tempo da guerra fria, o individualismo competitivo, a ambição, o egoísmo, a ganância e a usura do sistema capitalista tinham um freio limitador de sua crueldade, representado pela ditadura comunista da União Soviética. Com o esfacelamento dessa união, os países do extinto bloco soviético foram todos cooptados pelo capitalismo, mediante a falsa promessa neoliberal de democracia com bem estar social.

Sem mais qualquer resistência aos seus desígnios, a usura dos mais ricos levou os novos e velhos países capitalistas a um colapso global.

É amplamente visto que onde há essa explosiva combinação de iniciativa privada com a democracia deformada pela plutocracia, haverá sempre corrupção e impunidade seletiva, como meio de assegurar a burocratas mal remunerados e aos pobres alçados ao poder pelo voto popular um caminho livre para se tornarem ricos rapidamente, desviando dinheiro público. Foi assim que os filhotes civis e militares da ditadura ficaram bilionários. E também foi por esse caminho que alguns dos que militaram pela volta do estado democrático de direito e pela restauração das eleições diretas já ficaram bilionários, depois que chegaram ao poder pelo voto popular e foram cooptados pelo sistema, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, José Dirceu, José Genoíno, Lula e família.

Só que agora existe uma enorme diferença entre esses políticos cooptados e os réus do julgamento do mensalão, no que diz respeito ao uso de sua fortuna imunda e à exposição de seus sinais exteriores de riqueza: Fernando Henrique, José Serra, Lula e família precisam ser discretos e gozar a sua fortuna na clandestinidade. Já José Dirceu, Genoíno e a turma de mensaleiros, julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal da plutocracia, obtiveram um salvo conduto legal para viver a sua dolce vita ao bel prazer, desfrutando como quiserem de sua riqueza lavada. Roubaram bilhões, mas foram punidos com brandas penas privativas de liberdade noturna e ridículas penas pecuniárias de valor irrisório, que os obrigam a devolver apenas alguns tostões dos bilhões que comprovadamente furtaram do povo.

Durante o julgamento dos réus do mensalão, a farsa dos ministros do Superior Tribunal Federal foi objeto de ampla cobertura pela grande imprensa patronal. Assim, pudemos acompanhar algumas discussões pedantes e doutorais, onde ficou evidente a falta de consenso quanto ao que seja lavagem de dinheiro.

Pois bem, lavagem de dinheiro é isso que os supremos magistrados fizeram impunemente de permitir a José Dirceu, Genoíno e a turma do mensalão de usar e desfrutar, sem medo e sem culpa, de sua fortuna, que nasceu imunda e ficará bem lavada e muito limpa, depois que os famosos réus passarem na cadeia o tempo necessário para escreverem com capricho as suas memórias, que resultarão em grandes sucessos de público e de venda.

Essa é, portanto, a suprema lavagem de dinheiro, com a qual nem mesmo o colega Nicolau dos Santos Neto, o famoso juiz Lalau, teve a ventura de ser contemplado.





domingo, 25 de novembro de 2012

E rolou uma festa pobre.



Depois de muito tempo, voltamos ao estádio Manoel Barradas, para assistir ao jogo do Vitória contra o Ceará.

Mas não suportamos ver o jogo inteiro. Quando o Ceará - covarde, desmotivado, apático, incompetente - empatou a partida, jogando com 10 homens contra 11, ainda mais covardes, desmotivados, apáticos e incompetentes, deixamos o Barradão.

Não ficamos para a festa. Uma festa pobre como a festa da música de Cazuza. Uma festa de covardes e de incompetentes, aparentemente motivados apenas por vaidade, dinheiro fácil, cerveja e outras cositas mas, feita para uma numerosa platéia de torcedores sofridos e fiéis.

Entendemos que um time de futebol é como uma poça d’água, uma lagoa ou um oceano de águas lisas, que refletem a cara, as qualidades e a gestão de seus dirigentes. E o que vimos, refletido na superfície lisa dessa gotinha d’água que é o time do Vitória, foi apenas ambição pessoal, vaidade, usura, imprudência, incompetência, que caracterizam uma gestão ingênua, amadora e desastrosa.

Graças a um milagre de Paulo César Carpegiani, alcançamos o imerecido acesso à série A do campeonato brasileiro de futebol.

Saímos do Barradão com um pensamento só, que logo se externou no grito de um torcedor indignado:

- Fora Alex Portela!   


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A respeito da farsa política

A farsa política no Brasil sempre foi representada por canastrões gananciosos e preguiçosos, preferencialmente da classe mais abastada e seus vassalos, para ver quem vai ficar com a chave do grande cofre estatal e governar o país para o seu próprio bem, para o bem da moeda, do mercado e do capital.


No palco da política brasileira, esporadicamente aparecem em cena idealistas quase quixotescos com o sonho de governar por melhores condições de vida, por uma moralmente saudável distribuição de renda e por igualdade social. A honesta e louvável intenção desses aventureiros românticos tem apenas três caminhos históricos: os realmente honestos, capazes e decididos são massacrados pelo sistema (Tiradentes, Brizola, Jango, Anísio Teixeira, Lamarca e Marighela); os fracos são cooptados (FHC e Serra) e os espertos, sejam eles fracos (FHC e Serra), ou valentes (Zé Dirceu e Genoíno), enriquecem e esquecem as suas promessas ou seus escritos, tão logo se vêm com a chave do grande cofre na mão.

O sistema capitalista está tão arraigado na cultura política brasileira, ao ponto de aqui existir um só partido político neoliberal, com duas grandes facções: a facção que está no poder da chave do cofre e a outra que quer tomar o poder e ficar com a chave do cofre.

Essa é a nossa realidade política, desde o momento em que o europeu invadiu e saqueou pela primeira vez essa nossa terra roubada dos índios.

Como os ricos brasileiros são absolutamente incapazes de inventar, inovar, repartir, governar e produzir - a não ser grãos, vacas, galinhas e bananas - essa realidade elitista durou e prosperou até o dia em que um trabalhador nordestino, esperto, analfabeto e mutilado, a partir de uma perspectiva não elitista, nem arrogante, nem prepotente, mas bem populista, desenhou um plano eficiente de governar para o capital. Seu plano de cuidar da moeda, de fortalecer o mercado e de proteger o capital, que consiste em dar esmolas permanentes e duradouras aos necessitados, em vez de esmaga-los com arrocho salarial, está dando certo.

Com esse plano bem simples, o nordestino sabido tirou milhares de brasileiros da miséria, tirou o sono e o sonho de poder a médio prazo da facção elitista do partido único, seduziu o mercado, encantou os banqueiros, aqueceu a economia, fortalecendo o mercado interno a tal ponto, que essa ilusória solidez da economia tem livrado o país dos efeitos mais dramáticos da nova grande crise global do sistema neoliberal.

Quanto ao fato desse Ali Babá nordestino da gota e seu time de mais de 40 companheiros ladrões terem também assaltado o grande cofre estatal do país, todos sabemos que no Brasil, e em todo país capitalista, ou onde exista a livre iniciativa privada, como na China comunista, a maracutaia e toda forma nojenta desse crime hediondo de roubar o dinheiro público torna-se a mais sólida, poderosa e duradoura instituição nacional.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Boa sorte, Neto!



Um pouco mais da metade dos eleitores em Salvador elegeram ACM Neto o novo prefeito da cidade. Agora o nosso papel, o papel de toda cidade é torcer unida pelo sucesso do novo prefeito.

E temos muitas razões para acreditar no seu sucesso. Primeiro, nos governos federal e estadual temos pessoas muito diferentes do avô do novo prefeito, que sacrificou ao extremo a população e a cidade, bloqueando, insana e truculentamente, o repasse das verbas municipais constitucionais, no afã de massacrar a sua vitoriosa adversária política, eleita prefeita pelo voto livre da maioria.

Segundo, porque as principais promessas de campanha do novo prefeito são consistentes, oportunas, exequíveis e necessárias, como descentralizar a gestão municipal com a implantação das prefeituras-bairro; construir centros de educação integral, com atividade nos dois turnos, começando pelos bairros mais violentos; construir o Multicentro de Salvador, para consultas e exames especializados; construir um Hospital Geral em Pau da Lima e uma maternidade no subúrbio; implantar bilhete único e meia passagem de ônibus aos domingos; construir 40 km de corredores exclusivos para ônibus; criar a Secretaria de Ordem Pública e Prevenção à Violência e ampliar o efetivo da Guarda Municipal.

Terceiro, porque, ao contrário da última eleição municipal, desta vez a escolha do prefeito pelos eleitores não se constitui num erro flagrante e prejudicial à população e à cidade, como foi a reeleição de um menino chorão, de um gestor bunda mole, como é o seu antecessor, fato amplamente demonstrado, já no seu primeiro mandato.

Quarto, porque acreditamos que não será difícil para o novo prefeito trocar as festas e baladas, costumeiras e muito apreciadas, por atividades mais responsáveis e comprometidas com a cidade e com seu povo, como estar sempre presente fisicamente nos mesmos lugares visitados durante o tempo da propaganda eleitoral, acompanhando de perto o resultado das ações de seu governo.

E, finalmente, porque mesmo tendo sido lançado prematuramente na política por seu avô, eleito deputado com votos de cabresto de seus currais eleitorais, ACM Neto não deve ser mais o jovem parlamentar inexperiente e destemperado, político bravateiro, que ameaça dar surras em presidente e em quem mais se destacar no seu caminho.

Alem do mais, Neto tem na família o exemplo de seu tio Luis Eduardo, lançado na política irresponsavelmente como ele, mas que soube com sua inteligência, elegância, equilíbrio, carisma, trabalho e simpatia cativar e fidelizar seus eleitores, além de ser querido, respeitado e admirado por aliados e adversários políticos.

Boa sorte, Neto! Você é a nova apostado povo desta cidade e a última esperança de sobrevivência de seu moribundo e anacrônico partido.


sábado, 27 de outubro de 2012

Guarani Kaiowá não são obrigados a deixar fazenda ocupada em Mato Grosso do Sul



Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os 170 índios guaranis kaiowás que há quase um ano ocupam parte de uma fazenda da cidade de Iguatemi, a cerca de 460 quilômetros da capital sul-matogrossense, Campo Grande, e cuja situação ganhou destaque nacional nos últimos dias não terão que deixar a área. A medida vale pelo menos até que a real situação da propriedade seja esclarecida ou que laudos antropológicos descartem se tratar, como afirmam os índios, de terra tradicional indígena.
Segundo a Justiça de Mato Grosso do Sul, diferentemente do que os índios, as organizações indigenistas e o próprio Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul chegaram a anunciar, a decisão do juiz federal Sergio Henrique Bonachela, da 1ª Vara Federal em Naviraí (MS), constitui liminar de manutenção de posse e não de reintegração da área ocupada por 100 adultos e 70 crianças guaranis kaiowás desde novembro de 2011.
A Agência Brasil entrou em contato com a Justiça Federal em Mato Grosso do Sul hoje (26) de manhã e continua aguardando uma posição oficial sobre o assunto.
O detalhe jurídico que passou despercebido por muitos pode parecer trivial, mas, na prática, significa que o oficial de Justiça encarregado de fazer cumprir a sentença vai limitar-se a notificar os índios de que o terreno pertence, até prova em contrário, aos proprietários da Fazenda Cambará. O objetivo de uma liminar de manutenção é apenas preservar a posse de quem já vinha ocupando a área até que a situação seja esclarecida. Mesmo assim, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o MPF ajuizaram recursos contra a decisão no dia 16 de outubro e aguardam o julgamento.
De acordo com o promotor da República Marco Antonio Delfino, foram os próprios responsáveis pela fazenda que solicitaram a manutenção de posse. A decisão do juiz federal, favorável ao pedido, foi dada no último dia 17 de setembro. Como não há representação da Justiça Federal em Iguatemi, a incumbência de notificar o grupo indígena foi repassada à Justiça Estadual, por meio de carta precatória. Legalmente, o prazo para que o oficial de Justiça local notifique todo o grupo termina no próximo dia 8.
Segundo o diretor do cartório do Fórum de Iguatemi, Marco Antonio Arce, o oficial de Justiça só não começou a notificar antes os guaranis kaiowás devido à repercussão que o assunto ganhou nos últimos dias por causa da interpretação de uma carta que lideranças indígenas tornaram pública.
No texto endereçado ao governo e à Justiça brasileira, os líderes indígenas falam na possibilidade de morte coletiva ao referir-se aos possíveis efeitos da decisão da Justiça Federal. Dizem que, após anos de luta, o grupo já perdeu a esperança de sobreviver dignamente e sem violência na região onde, segundo eles, estão enterrados seus antepassados. Por fim, informam, em tom de ameaça, que decidiram integralmente não sair com vida e nem mortos e pedem que, se for determinado que eles saiam da área, governo e Justiça enviem "vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar" os corpos.
Embora a palavra suicídio não seja empregada nenhuma vez, a interpretação de que o grupo estaria ameaçando se matar em sinal de protesto gerou uma onda de comoção que ganhou as redes sociais e chegou a ser noticiada por veículos de imprensa internacionais.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), embora, na carta, o grupo não tenha falado em suicídio, mas sim em morte coletiva no contexto da luta pela terra, a medida extrema tem sido recorrente entre os índios. A organização ligada à Igreja Católica afirma que a situação de confinamento em áreas exíguas, a falta de perspectivas, a violência aguda e a impossibilidade de retornarem às terras tradicionais a que estão sujeitos os vários grupos indígenas que vivem no estado levaram ao menos 555 índios a, isoladamente, tirar a própria vida entre os anos 2000 e 2011. Especificamente em relação aos guaranis kaiowás, o Cimi lembra que, embora já haja 43 mil deles espalhados por Mato Grosso do Sul, apenas oito terras indígenas foram homologadas para o grupo desde 1991.
De acordo com o Ministério Público Federal, até três meses antes de ocupar 2 dos 762 hectares da Fazenda Cambará, os 170 índios viviam acampados às margens de uma estrada vicinal, na mesma cidade. Na noite de 23 de agosto, o acampamento foi supostamente atacado por pistoleiros que, segundo os índios, atearam fogo nas barracas e feriram várias pessoas. O MPF tratou o episódio como genocídio e pediu à Polícia Federal que apurasse as denúncias. Ainda segundo o MPF, a área ocupada faz parte de uma reserva de mata nativa, que não pode ser explorada economicamente e está sendo estudada por antropólogos da Funai que, em breve, devem divulgar suas conclusões.
Edição: Graça Adjuto

sábado, 20 de outubro de 2012

O novo apostolado da oração



Talvez a principal incumbência da mídia patronal seja a de promover o surto de esquizofrenia social, manipulando fatos para esconder a realidade e substituí-la por uma ecumênica fantasia, oferecida à fé popular.

E assim foi criado o novo apostolado da oração contra império dos demônios e dos capetas, aquartelados no PT, onde se concentram todos os corruptos do país. O Pai, o Filho e o Maldito Espírito de Lula são a satânica trindade da política brasileira e, ao mesmo tempo, poderosíssima trindade demoníaca, porque é Lula quem anda pelo país afora vencendo eleições e subindo nas pesquisas, o que não dá para esconder, sempre acompanhado, visível ou invisivelmente, por seus 12 diabólicos apóstolos do mal, entre os tais, Demo José Dirceu, Demo Genoíno, Demo Delúbio Soares.  

As luzes, os microfones, os teclados e as câmeras da mídia patronal estão dirigidos e focados exclusivamente no PT, porque fora do PT só vivem e viveram os santos milagreiros da política brasileira, portanto, que fiquem sobre os santinhos da ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL e brevemente ex-DEM, apenas o manto escuro da noite eterna e o brilho longínquo das estrelas do PT.

No DEM de Santo Antonio Carlos Magalhães, curiosamente chamado de São Toninho Malvadeza por seus conterrâneos insubmissos, patrono do puro jornalismo livre e da divina liberdade de expressão e também o santo inspirador dos que buscam riqueza cor de rosa, inexplicável e repentina, lá vivem ou prosperaram, dedilhando as suas harpas, algumas das mais notórias santidades de nossa política, como São José Roberto Arruda, o padroeiro da propina sagrada e da divina escuta clandestina e São Demóstenes Torres o milagroso benfeitor das Águas e das cachoeiras.  

Mas o santo mais em moda no DEM em São Salvador da Bahia de Todos os Santos é o valente e implacável São Grampinho, cuja imagem é a de um anão PFL do orçamento, com dinheiro cor de rosa, numa mão e chicote na outra, espancando os presidentes demônios da república, os ambulantes maltrapilhos da cidade e os imundos sem teto das calçadas, para salvar o país da roubalheira e despoluir Salvador, bem ao estilo de seu santo avô, a quem São Grampinho, num arroubo de inexperiência e coragem infanto-juvenil, chamou de corrupto e lhe impingiu a culpa de ser ladrão assumido até morrer.

Essa fantasia da decência brasileira criada pela mídia patronal é a nossa realidade e quem não acreditar nela é louco, ou é um desses ladrões malocados no PT.

E, para os mais devotos que queiram reproduzi-lo, a imagem de São Grampinho pode ser feita de vidro, de barro, de gesso ou de terracota, mas a cara deve ser obrigatoriamente de pau, para que ele continue denunciando de santa cara limpa, em sua propaganda política, o caos do governo de seu parceiro João Henrique, no qual a sua equipe de anjos teve e tem inúmeros cargos de direção, e para que o ungido santo anão continue cuspindo no prato onde come e arrotando salvar Salvador do desgoverno de seu aliado João Henrique e dele próprio. Amém.

E, no mais, é como diz o povão infiel: calça de homem não dá em menino.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

As nossas mãos de Pilatos.



A Justiça Federal autorizou o despejo de 170 índios Guarany-Kaiowá de suas terras em Pyelito Kue Mbrakay, região de Navirai, Mato Grosso do Sul, em proveito de ruralistas do agronegócio, que vão depredar ainda mais o meio ambiente, derrubar florestas, exterminar animais silvestres, envenenar o solo, os alimentos e os mananciais.

Como ensinam os sertanistas e o saudoso antropólogo Darcy Ribeiro, essa violência vai provocar a morte de toda a população despejada e causar mais contaminação cancerígena por agrotóxico, para quem continuar vivo, como revela o relatório anual do Instituto Nacional do Câncer.

Certamente essa decisão da Justiça Federal não foi tomada por um juiz da estirpe de Joaquim Barbosa, mas por um juiz, ou por uma corte formada por magistrados grampeados por Daniel Dantas, aliado da usurária e retrógrada elite ruralista.

A grande mulher Lina Bo Bardi disse quefalta ao Brasil a violência popular de base, que prenuncia as mudanças em um país”. Isso foi dito num contexto em que a população ativa, consciente, corajosa, democrática e legalista estava sendo torturada e dizimada pela ditadura militar.

Hoje, no bojo de uma ditadura civil neoliberal, um pouco mais branda em termos de violência física, podemos continuar concordando com essa talentosa arquiteta do belo e dizer que falta ao Brasil a ativa mobilização popular de base, que prenuncia as mudanças em um país.

Vítimas de nossa própria ambição pessoal, ambição sempre egoísta, dominados pela usura e pela ganância, vivemos com a consciência adormecida num conceito evangélico de compaixão, que significa sentir-se melhor, mais afortunado, mais abençoado do que os que sofrem, ser solidário e ajudar tendo pena e dando esmolas.

Mas isso não é compaixão, é oportunismo. Compaixão é sentir-se igual ao outro, nem melhor, nem pior do que ninguém, dar as mãos aos que sofrem e caminhar com eles para longe do sofrimento.

Exatamente como fazem alguns de nossos irmãos judeus, no Estado de Israel, os poucos não contaminados pelo vírus do nazismo, que se mudam de mala e cuia para casas de palestinos, em Jerusalém, e passam a morar com eles, para impedir que a SS de Israel os despeje de suas casas.

Vou de mochila e barraca visitar os índios Guarany-Kaiowá e passar um tempo possível com eles, às margens do rio Hovy.

Quero que minha consciência desperte com o amanhecer da floresta, no colo de uma velha índia, como a minha mãe Dodó, que me ensinou a ser gente e muito diferente das pessoas sem amor e sem saúde, acima do peso, deformadas, barrigudas, estressadas, que vejo passando pelas ruas e frequentando igrejas, para implorar milagres e fazer caridade, dando esmolas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Antes de colocar a nossa cabeça no travesseiro...



Tive a sorte de também ser criado por uma índia e trago o desabafo de um parente para a reflexão de vocês. Procuro saber qual é a nossa melhor atitude, diante dessa questão gravíssima. Ficaremos indiferentes, de braços cruzados, nessa passividade constante que herdamos de nossos antepassados? Será que a nossa única iniciativa, individual ou coletiva, é tomar o que é dos outros, ganhar dinheiro sem esforço? Parece que os valentes brasileiros que lutaram e deram a vida pela liberdade, pela justiça, pela igualdade e pela legalidade não deixaram descendentes. O sangue desses bravos se perdeu. Depois publico aqui mesmo a minha reflexão e revelo qual atitude vou tomar, diante do genocídio progressivo que cometemos contra os habitantes da terra que invadimos.



Nós (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de despacho/ordem de nossa expulsão/despejo expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, em 29/09/2012.

Recebemos esta informação de que nós comunidades, logo seremos atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver na margem de um rio e próximo de nosso território tradicional PyelitoKue/Mbarakay.

Assim, entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena/nativo/autóctone do MS/Brasil, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira.

A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados 50 metros de rio Hovy onde já ocorreram 4 mortos, sendo 2 morreram por meio de suicídio, 2 morte em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um (01) ano, estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo PyleitoKue/Mbarakay.

De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

Via Miguel Maron

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Breve história do Mensalão



Estão espalhando pela mídia eletrônica um artigo de Nelsinho Mota tratando do Mensalão. Uma querida amiga, bem instruída, muito viajada e inteligentíssima, empolgada com esse artigo, está distribuindo na rede uma cópia, digitada com letras enormes, taxando-o de perfeito.


Nem tão perfeito assim, minha querida.


No início de 1964, um lampejo de honestidade, patriotismo e soberania do Congresso Nacional aprovou a Lei de Remessa de Lucros para o Exterior, que inviabilizava a farra feita por especuladores internacionais, que relocavam no Brasil fábricas totalmente depreciadas e sucateadas em seus países, para produzir mercadorias de quinta e cobrar do brasileiro preços de primeira. Automóveis inclusive, ou Carroças como Fernando Collor a eles se referia.


Pela lei então em vigor, todo o lucro fantástico, obtido com essa exploração, era enviado livremente para o exterior. Eram os tempos negros das veias abertas da América Latina, antes de Lula, Chavez, Kirchner, Evo Morales e Fidel, quando a grande maioria do povo estava desempregada, marginalizada, e os operários assalariados recebiam salário de fome. Nossa riqueza era transformada em dólares e remetida livremente para o exterior.


Washington tentou de toda maneira comprar o veto de Jango Goulart a essa lei aprovada no Congresso. Ofereceu ao país a doação de uma fortuna, dinheiro mais que suficiente para Jango realizar todas as reformas de base e tirar o país do atraso econômico e social, que tanto agrada a burguesia urbana e ruralista.


Jango ficou indeciso, mas Brizola o convenceu a sancionar a lei. Ao sancioná-la, Jango disse em alto e bom som que ao assinar essa lei libertária, ele estava assinando também a sua sentença de morte. A lei foi sancionada em fevereiro de 1964 e em primeiro de abril desse mesmo ano, depois de muita agitação encomendada, Jango, presidente eleito pelo voto democrático, foi deposto pelas forças armadas, com o luxuoso auxílio da esquadra norte americana, de prontidão em águas territoriais brasileiras. Nesse dia, o Brasil tinha uma dívida externa de 3 bilhões de dólares.


Os generais assumiram o poder, mas tiveram medo e vergonha de revogar essa lei legítima. Então os seus assessores civis estrangeiros bolaram um meio de burlar a nova lei. A empresa estrangeira, em vez de investir diretamente no país, na montagem das fábricas sucateadas, depositava o seu dinheiro em bancos no exterior e simulava um empréstimo para suas subsidiárias no Brasil. Então, em vez da remessa de lucros, agora restrita a 16% ao ano, a subsidiária brasileira remetia todo o lucro em forma de pagamento de juros e do principal da falsa dívida "contraída" no estrangeiro. Dessa forma, a nossa dívida externa que era de 3 bilhões de dólares, em menos de 5 anos subiu para mais 90 bilhões. Estava então lançada a pedra fundamental do nosso Mensalão, que ainda não era para comprar voto parlamentar, porque estávamos em plena ditadura. Isso tudo foi feito pelo time de ACM, FHC, Serra, Jader Barbalho, Maluf e Cia. 


Com a queda da ditadura, o esquema passou a ser usado para a compra de voto parlamentar e foi muito eficiente na votação do segundo mandato de FHC e nas eleições do governo elitista pelo país afora, esquema sempre coordenado por Marcos Valério, homem de confiança do PSDB mineiro. 


PSDB e Arena, depois PDS, depois, PFL, depois DEMO, acreditavam que, graças a essa maravilhosa herança maternal da ditadura, iriam ficar eternamente no poder e continuaram confiantes com a política neoliberal de massacrar o povo em proveito das elites.


Mas eles não contavam que o povo acabasse com essa farra monumental e elegesse um torneiro mecânico analfabeto funcional para presidente do país, derrotando o elitista, poderoso e erudito time de FHC, Serra, Sarney, Luiz Eduardo e ACM. 


No governo, Lula inventou o neoliberalismo populista, deu esmola aos mais necessitados, tirou milhões e milhões de eleitores da linha da miséria e da pobreza, fortaleceu a economia interna, aumentou o lucro dos banqueiros e dos empresários competentes, obtendo índices de popularidade jamais vistos no país. 


Enquanto Lula fazia a sua política imbatível, a gang de José Dirceu e Genoíno cooptava a gang de FHC, Brindeiro e Serra e mantinha Marcos Valério como o operador do esquema, em razão do seu grande conhecimento e prática do assunto.


Isso o dandi Nelsinho Mota não sabe, não estudou, ou omite deliberadamente, como o faz toda a mídia patronal.


Caso queira saber mais sobre esses fatos, leia o livro Jango Goulart, as reformas sociais no Brasil, escrito pelo professor Moniz  Bandeira


Esse livro, obviamente, só é encontrado no sebo.