sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL



O Deus que me ama está solto, está livre
                                                           Ele me dá a vida
E dá vida aos mares, rios, matas e desertos
E paz ao meu coração inquieto.

O deus que está preso nos livros,
Nos templos, nas igrejas e nos mosteiros
É um deus que não me ama
Ele ama o meu dinheiro.

Tenho recebido pela Internet textos de escribas da Gestapo à serviço da direita xiita brasileira, que me fazem lembrar a pregação de padres e pastores evangélicos, ávidos pelo dízimo.

Da mesma forma como berram os sacerdotes, os textos nazi também gritam muito mais o nome do diabo do que o santo nome do deus lá deles. E há uma razão muito forte para isso: os sacerdotes precisam encontrar um culpado; nomear um bode expiatório, alguém a quem responsabilizar por tanta injustiça, tamanha corrupção e pelo infindável sofrimento dos pobres, dos fracos e dos oprimidos.

À imagem e semelhança do deus antropomórfico dos crentes, que é o melhor, o único, o verdadeiro e o fiel, em nome de quem os sacerdotes fazem a sua coleta, também o candidato da direita  xiita é o melhor, o verdadeiro e o único honesto, ilustre possuidor do melhor currículo: o melhor estudante, o melhor militante, o melhor vereador, o melhor prefeito, o melhor governador, o melhor ministro, o melhor tudo, sem falar que é o mais preparado.

Mas grudadas na minha garganta estão perguntas que não querem calar: o deus antropomórfico da mitologia hebraica  é fiel a quem? O candidato xiita é o melhor para quem?

Será que eles, o deus e o xiita, são os melhores e o mais fiéis para os pobres, para os fracos e para os oprimidos? Será que o deus bíblico e o candidato xiita são fiéis à todas as vítimas do terrorismo do capital? São eles fiéis aos famintos, aos refugiados, aos desempregados, aos operários, ao pequeno agricultor, aos trabalhadores rurais sem terra, aos bancários, aos servidores públicos? Será que ambos são solidários aos injustiçados? Não!

Da mesma maneira como o deus bíblico só é fiel aos ricos, o candidato da direita xiita é o melhor político para os banqueiros, para os latifundiários, para os grandes empresários, cheios de ambição e usura, e para o capital estrangeiro.

Para o povo sofrido da terra do sol, a maioria do povo brasileiro, em 510 anos de Brasil, em 121 anos de República, o melhor ministro foi Osvaldo Cruz; o melhor presidente, Lula e hoje a melhor candidata a presidente é Dilma Rousseff.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O SANTO GUERREIRO CONTRA O DRAGÃO DA MALDADE



Filtrando o império da hipocrisia, que domina a parada cívica eleitoral de 2010, nenhum candidato a Presidente da República foi capaz de explicar ao eleitor o que é que está realmente em jogo nessa disputa.

Não se trata absolutamente do duelo entre o Santo Guerreiro e o Dragão da Maldade, nem entre o competente, experiente e bem preparado político de carreira contra um fantoche desconhecida e despreparada.

Isso é muito claro, porque o povo está careca de saber que todo político velho e experiente é um rato do erário, à exceção talvez de políticos com o perfil de Plínio de Arruda Sampaio e do saudoso Ulisses Guimarães.

Sabemos que os “ficha limpa” são as ratazanas mais espertas e sorrateiras, que ainda não foram pegas em flagrante.

Ao contrário de 8 anos para cá, antigamente  não se apurava nada. As denúncias eram engavetadas. A impunidade dos graúdos era ampla, geral e irrestrita.

Mas será que existe algum crente tão inocente ao ponto de acreditar que não rolou um portentoso mensalão durante a votação do segundo mandato para FHC?  

E, diante da cultura ancestral da politicagem verde e amarela, será que existe alguém que não saiba da pontinha na conta bancária, em paraísos fiscais, desses políticos marcados pela determinação em privatizar a qualquer preço?

Sabe-se também que não se trata de uma pontinha qualquer, um mensalãozinho de segunda, e sim de uma graninha respeitável. Propina paga pelos empresários, que lucraram fortunas abocanhando empresas públicas piratizadas, graças à ação desses manjados políticos, que se empenharam tenazmente para a concretização da monumental negociata da privatização.  O povo não é bobo.

E quanto ao preparo para ser governante?  Ao contrário de 8 anos para cá, o Brasil sempre elegeu ou engoliu políticos experientes e militares bem preparados em West Point. E, com esses presidentes e ditadores bem “preparados”, o povão sempre levou ferro e os gringos ouro.

Graças à qualidade e dedicação do funcionalismo público concursado, o Estado é uma máquina que anda sozinha.  Cabe ao governante apenas decidir se vai governar para melhorar a economia; aumentar a renda nacional e distribuí-la visando tirar o pobre da miséria, ou se vai sangrar a economia; entregando o país às grandes corporações capitalistas, para concentrar renda, aumentando a fome e o desemprego.

Pois é precisamente isso que está em jogo nessa eleição presidencial: a escolha entre um modelo neoliberal elitista de governo, concentrador de renda e fomentador de arrocho salarial, fome e desemprego, ou a continuação do governo neoliberal populista de Lula, que tirou 25 milhões de brasileiros da miséria e fortaleceu a economia.

Como disse Chico Buarque, o grande brasileiro, músico e poeta, o povo já conhece e aprova a continuação de um modelo político que melhorou o país, empregando cidadãos; fortalecendo o mercado e as empresas; reduzindo a fome, a miséria e falando igual para todo o mundo. Sem precisar falar fino para os Estados Unidos e o FMI, nem falar grosso para os nossos irmãos de Cuba, Venezuela, Bolívia e Irã.

Porque, no fundo, no fundo, Santo Guerreiro mesmo o povão só acredita em São Jorge. E o Dragão da Maldade, o único que apareceu aqui por essas bandas, foi um finado oligarca baiano, parceiro e aliado de José Serra e FHC.




domingo, 17 de outubro de 2010

A ANTIPÁTICA CARA DE PAU DE SERRA



O hipócrita, o cínico ou a mesma pessoa com essas duas qualidades, para alcançar os seus objetivos, todos esses espertalhões apostam na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória de suas vítimas.


Muitos não se lembram de que a política intervencionista dos Estados Unidos robusteceu-se em 1963, após o duplo assassinato do presidente John Kennedy e de seu irmão e virtual sucessor Robert Kennedy, porque eles se comprometeram a acabar com a guerra do Vietnam, contrariando interesses das poderosas indústrias bélicas e de energia. Mas muita gente sabe que as guerras sempre foram a solução do sistema capitalista para acabar com suas arrasadoras crises cíclicas.


No começo de 1964, na crista dessa nova onda intervencionista, o embaixador norte americano Lincoln Gordon tentou um acordo com Jango, o então presidente do Brasil, oferecendo a fundo perdido, ou seja, doando ao país quatrocentos milhões de dólares, tudo que Jango precisava para implementar as reformas sociais de base, a principal meta de seu governo, em troca do veto presidencial à Lei de remessa de lucros para o exterior, recém aprovada pelo Congresso Nacional.


Naquele tempo, os investidores estrangeiros remontavam no Brasil indústrias obsoletas, totalmente depreciadas no país de origem, e auferiam aqui lucros astronômicos, vendendo caro no mercado brasileiro produtos de baixa qualidade. Todo lucro dessas indústrias de capital estrangeiro era remetido livremente para suas matrizes no exterior. Portanto, a nova lei aprovada no congresso viria para acabar com essa farra espoliativa do capital estrangeiro no Brasil.


Um mês após promulgar a lei de remessa de lucros, Jango foi derrubado por um golpe militar, monitorado pela sexta frota naval norte americana, em águas territoriais brasileiras.


Moralmente impedida de revogar a lei de remessa de lucros, a ditadura militar consentiu que as empresas estrangeiras forjassem uma operação triangular com bancos estrangeiros, através da qual simulavam empréstimos de seu próprio dinheiro, para investimentos no Brasil e, dessa forma, os lucros continuavam sendo remetidos livremente ao exterior, como se fossem juros de empréstimos em moeda estrangeira.


O tamanho dessa sangria na economia brasileira pode ser medido pelo fato de que, em menos de 10 anos, a dívida externa de 3 bilhões de dólares, deixada pelo governo Jango, passou para mais de 100 bilhões de dólares.


Mas a traição dos militares ao Brasil não ficou só nesse crime. A ditadura atendeu todas as exigências obscenas do capital estrangeiro espoliativo, eliminando direitos do trabalhador, arrochando salários e cometendo o maior de todos os crimes: a ditadura militar acabou com a estabilidade no emprego do trabalhador brasileiro.


Foi para impedir e reparar esses crimes de lesa pátria; foi para conter esse assalto à nossa soberania; foi para devolver a dignidade ao povo brasileiro e pela volta da democracia e do estado democrático de direito, que alguns patriotas ativistas em prol da garantia dos direitos humanos, como Dilma Rousseff, com coragem e destemor, se insurgiram e lutaram contra a ditadura militar, muitos deles pagando o preço de sua própria vida.


Vinte e quatro anos depois dessa vergonha nacional, durante a assembleia nacional constituinte, surgiu a possibilidade dos deputados e senadores constituintes repararem parte dessa perda sofrida pela nação brasileira, devolvendo ao trabalhador a estabilidade no emprego e outros direitos trabalhistas.


Ex-militante das lutas populares, o deputado constituinte José Serra, cooptado pelo sistema capitalista, defendeu com unhas e dentes os interesses dos espoliadores do país e do povo brasileiro, tendo a seguinte participação na assembleia constituinte de 1988:

a) votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas;
b) votou contra garantias ao trabalhador de estabilidade no emprego;
c) votou contra a implantação de Comissão de Fábrica nas indústrias;
d) votou contra o monopólio nacional da distribuição do petróleo;
e) negou seu voto pelo direito de greve;
f) negou seu voto pelo abono de férias de 1/3 do salário;
g) negou seu voto pelo aviso prévio proporcional;
h) negou seu voto pela estabilidade do dirigente sindical;
i) negou seu voto para garantir 30 dias de aviso prévio;
j) negou seu voto pela garantia do salário mínimo real.


Mais recentemente, durante os oito anos do governo FHC, foi o mais ativo colaborador do capital estrangeiro, promovendo a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, da Companhia Siderúrgica Nacional e de diversas outras empresas rentáveis e estratégicas para a segurança nacional, à preço de banana, mediante pagamento com moeda podre e seguiu se empenhando com sucesso contra reajustes reais do valor do salário mínimo.


Na prefeitura da capital e no governo do estado de São Paulo, continuou governando para a elite, que não sofre para pagar preços abusivos nos pedágios, privatizando o que ainda faltava entregar ao capital privado, e deixou os servidores públicos do estado mais rico do país com um dos mais baixos salários pagos, entre todos os estados do Brasil.


E ainda por cima, fazendo o que a sangrenta, corrupta e covarde ditadura militar teve vergonha de fazer, FHC e Serra, sem o menor pudor, revogaram a Lei de remessa de lucros para o exterior e a Lei Delegada nº 4, promulgada por Getúlio Vargas para coibir com pesadas sanções a prática da usura na formação de preços ao consumidor. Por essa razão, o sistema financeiro e as empresas privatizadas por FHC e Serra ficaram livres e desimpedidas para nos cobrar os maiores preços e tarifas praticadas no planeta.


Agora, durante a campanha presidencial, na ânsia de voltar a servir com a eficiência habitual aos interesses das grandes corporações capitalistas, porque isso deve render alguns bons dividendos espirituais em paraísos fiscais, Serra fica prometendo mundos e fundos aos eleitores, como prometeu, até mesmo chegando ao cúmulo de registrar essa promessa em cartório, de que não deixaria a prefeitura da cidade de São Paulo na metade do seu mandato, para concorrer ao governo do estado e, como se viu, não cumpriu a promessa.


José Serra aposta na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória da maioria do eleitorado, para continuar prestando relevantes serviços às grandes corporações capitalistas e às classes mais abastadas. Sempre contrário aos interesses do país e da maioria dos trabalhadores brasileiros.










A ANTIPÁTICA CARA DE PAU DE SERRA



O hipócrita, o cínico ou a mesma pessoa com essas duas qualidades, para alcançar os seus objetivos, todos esses espertalhões apostam na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória de suas vítimas.


Muitos não se lembram de que a política intervencionista dos Estados Unidos robusteceu-se em 1963, após o duplo assassinato do presidente John Kennedy e de seu irmão e virtual sucessor Robert Kennedy, porque eles se comprometeram a acabar com a guerra do Vietnam, contrariando interesses das poderosas indústrias bélicas e de energia. Mas muita gente sabe que as guerras sempre foram a solução do sistema capitalista para acabar com suas arrasadoras crises cíclicas.


No começo de 1964, na crista dessa nova onda intervencionista, o embaixador norte americano Lincoln Gordon tentou um acordo com Jango, o então presidente do Brasil, oferecendo a fundo perdido, ou seja, doando ao país quatrocentos milhões de dólares, tudo que Jango precisava para implementar as reformas sociais de base, a principal meta de seu governo, em troca do veto presidencial à Lei de remessa de lucros para o exterior, recém aprovada pelo Congresso Nacional.


Naquele tempo, os investidores estrangeiros remontavam no Brasil indústrias obsoletas, totalmente depreciadas no país de origem, e auferiam aqui lucros astronômicos, vendendo caro no mercado brasileiro produtos de baixa qualidade. Todo lucro dessas indústrias de capital estrangeiro era remetido livremente para suas matrizes no exterior. Portanto, a nova lei aprovada no congresso viria para acabar com essa farra espoliativa do capital estrangeiro no Brasil.


Um mês após promulgar a lei de remessa de lucros, Jango foi derrubado por um golpe militar, monitorado pela sexta frota naval norte americana, em águas territoriais brasileiras.


Moralmente impedida de revogar a lei de remessa de lucros, a ditadura militar consentiu que as empresas estrangeiras forjassem uma operação triangular com bancos estrangeiros, através da qual simulavam empréstimos de seu próprio dinheiro, para investimentos no Brasil e, dessa forma, os lucros continuavam sendo remetidos livremente ao exterior, como de fossem juros de empréstimos em moeda estrangeira.


O tamanho dessa sangria na economia brasileira pode ser medido pelo fato de que, em menos de 10 anos, a dívida externa de 3 bilhões de dólares, deixada pelo governo Jango, passou para mais de 100 bilhões de dólares.


Mas a traição dos militares ao Brasil não ficou só nesse crime. A ditadura atendeu todas as exigências obscenas do capital estrangeiro espoliativo, eliminando direitos do trabalhador, arrochando salários e cometendo o maior de todos os crimes: a ditadura militar acabou com a estabilidade no emprego do trabalhador brasileiro.


Foi para impedir e reparar esses crimes de lesa pátria; foi para conter esse assalto à nossa soberania; foi para devolver a dignidade ao povo brasileiro e pela volta da democracia e do estado democrático de direito, que alguns patriotas ativistas em prol da garantia dos direitos humanos, como Dilma Rousseff, com coragem e destemor, se insurgiram e lutaram contra a ditadura militar, muitos deles pagando o preço de sua própria vida.


Vinte e quatro anos depois dessa vergonha nacional, durante a assembleia nacional constituinte, surgiu a possibilidade dos deputados e senadores constituintes repararem parte dessa perda sofrida pela nação brasileira, devolvendo ao trabalhador a estabilidade no emprego e outros direitos trabalhistas.


Ex-militante das lutas populares, o deputado constituinte José Serra, cooptado pelo sistema capitalista, defendeu com unhas e dentes os interesses dos espoliadores do país e do povo brasileiro, tendo a seguinte participação na assembleia constituinte de 1988:

a) votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas;
b) votou contra garantias ao trabalhador de estabilidade no emprego;
c) votou contra a implantação de Comissão de Fábrica nas indústrias;
d) votou contra o monopólio nacional da distribuição do petróleo;
e) negou seu voto pelo direito de greve;
f) negou seu voto pelo abono de férias de 1/3 do salário;
g) negou seu voto pelo aviso prévio proporcional;
h) negou seu voto pela estabilidade do dirigente sindical;
i) negou seu voto para garantir 30 dias de aviso prévio;
j) negou seu voto pela garantia do salário mínimo real.


Mais recentemente, durante os oito anos do governo FHC, foi o mais ativo colaborador do capital estrangeiro, promovendo a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, da Companhia Siderúrgica Nacional e de diversas outras empresas rentáveis e estratégicas para a segurança nacional, à preço de banana, mediante pagamento com moeda podre e seguiu se empenhando com sucesso contra reajustes reais do valor do salário mínimo.


Na prefeitura da capital e no governo do estado de São Paulo, continuou governando para a elite, que não sofre para pagar preços abusivos nos pedágios, privatizando o que ainda faltava entregar ao capital privado, e deixou os servidores públicos do estado mais rico do país com um dos mais baixos salários pagos, entre todos os estados do Brasil.


E ainda por cima, fazendo o que a sangrenta, corrupta e covarde ditadura militar teve vergonha de fazer, FHC e Serra, sem o menor pudor, revogaram a Lei de remessa de lucros para o exterior e a Lei Delegada nº 4, promulgada por Getúlio Vargas para coibir com pesadas sanções a prática da usura na formação de preços ao consumidor. Por essa razão, o sistema financeiro e as empresas privatizadas por FHC e Serra ficaram livres e desimpedidas para nos cobrar os maiores preços e as tarifas praticadas no planeta.


Agora, durante a campanha presidencial, na ânsia de voltar a servir com a eficiência habitual aos interesses das grandes corporações capitalistas, porque isso deve render alguns bons dividendos espirituais em paraísos fiscais, Serra fica prometendo mundos e fundos aos eleitores, como prometeu, até mesmo chegando ao cúmulo de registrar essa promessa em cartório, de que não deixaria a prefeitura da cidade de São Paulo na metade do seu mandato, para concorrer ao governo do estado e, como se viu, não cumpriu a promessa.


José Serra aposta na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória da maioria do eleitorado, para continuar prestando relevantes serviços às grandes corporações capitalistas e às classes mais abastadas. Sempre contrário aos interesses do país e da maioria dos trabalhadores brasileiros.










terça-feira, 12 de outubro de 2010

TRANSPARÊNCIA





Pode-se falar qualquer coisa positiva ou negativa da pessoa de José Serra e dizer muito mais ainda do candidato José Serra. Aqui mesmo, em alguns momentos, nós vamos adjetivar o seu caráter. Porém, pelo menos uma coisa dita é certa: José Serra não é nada bobo, pelo contrário esse tucano é danado de esperto. Foi de esquerda e lutou pelos menos favorecidos, quando isso trazia bons dividendos políticos, Depois, com esse cacife acumulado, se ofereceu para ser cooptado pelo sistema neoliberal, tornando-se por aqui o mais eficiente facilitador da ação do capital espoliativo internacional, quando isso passou a garantir-lhe bons dividendos monetários ou espirituais. Nunca se sabe.

Fazemos essas superficiais considerações a propósito de um incidente acontecido no debate da Bandeirantes, no último domingo, e que passou despercebido por muita gente.

Em dado momento da acalorada discussão, Serra, exibiu o seu caráter, vingativo, violento, imprudente e impulsivo, atacando, com sorrisos irônicos e tom de voz cordial, a honra de Dilma Rousseff, ao ressaltar o fato da proximidade e intimidade da candidata com aquela a quem a imprensa patronal já sentenciou como responsável pelo desvio de verbas públicas, na função inicial de braço direito de Dilma e depois de Ministra Chefe da Casa Civil do governo Lula.

Obviamente, naquele instante, Serra oferecia aos eleitores uma explosiva acusação formal de cumplicidade de Dilma no crime de Erenice.

Com a fibra, a serenidade e a coragem de uma mulher de ferro, talhada para ser uma grande estadista - à altura de Lula - Dilma retrucou energicamente - como deve ser conduzida a defesa da honra - que o fato de estar próxima a um suposto criminoso não significa necessariamente cumplicidade. E citou como exemplo um tal amigo e tesoureiro da campanha de Serra, que teria fugido  com 4 milhões de reais.

Emblemático nesse incidente do debate não foi o fato de Serra ter ficado pálido e depois mudo, sem explicar o golpe do seu tesoureiro e sem tocar mais no assunto. E por que não? Ai é que vem a esperteza de Serra. Esse incidente trouxe à tona no debate a questão da TRANSPARÊNCIA, e transparência é a última coisa que o PSDB de Serra e FHC e o DEMO de ACM e Cia querem discutir. E porque não discutir? Porque é exatamente no quesito da transparência onde está a grande diferença entre o jeito Lula de ser e o modo do PSDB governar.

Nunca soubemos dessa fuga de groselha do caixa da campanha de Serra. A imprensa patronal, caso o tenha feito, se chegou a divulgar uma notinha sobre o fato, foi uma notinha tão pequenininha, mas tão pequenininha, que nem chegou ao nosso conhecimento. Quem soube dessa fuga milionária do parceiro de Serra, antes da revelação de Dilma? Talvez muito pouca gente. Isso não se tornou reportagem de capa, nem pauta assídua dos telejornais.

Com sua manjada pose de mercador elitista e com toda hipocrisia e desfaçatez que caracterizam a sua classe, o tucano Serra está vendendo aos eleitores brasileiros a ideia de que corrupção e roubalheira só não aconteceram no Brasil durante o governo da coligação dele e de FHC com o DEM de ACM.

Serra insiste em ressaltar que a corrupção brasileira foi retomada e chegou ao seu auge agora no governo Lula. E que a grande mudança a ser conquistada pelo voto será fazer o Brasil voltar a ser governado por ele e FHC, os guardiões da ética e da moralidade abaixo do equador.

Mas o povo sabe que corrupção e roubalheira são vírus altamente contagiosos de cima para baixo, infestados no DNA da elite dirigente do país, desde a invasão europeia, em 1500.  

Nesse tempo todo de Brasil, a bandalheira só não esteve de mãos dadas com a impunidade durante o governo de Lula.

Nos oito anos de FHC e Serra, todas as denúncias de corrupção eram engavetadas, sem investigação. Nada se apurava. Cega, surda e muda, a imprensa patronal não sabia de nada. A Polícia Federal vivia com uma cestinha de barbante pescando pequenos mariscos, nas praias da periferia.

A grande mudança de fato, a principal diferença entre os governos de FHC/Serra e o de Lula/Dilma, é que, pela primeira vez na nossa história, hoje, qualquer denúncia é apurada rigorosamente. “Doa em quem doer”, como dizia um outro ilustre Fernando, em portunhol castiço. No governo de Lula, a punição deixou de ser seletiva. A polícia investiga tanto aliados como adversários do governo, buscando provas do delito denunciado. Não mais se arquivam denuncias por falta de provas, sem prévia investigação. Depois, oferecidas as provas, a justiça faz a sua parte.  Faz?

Enquanto isso, o modo do PSDB e DEMO governar nós já sabemos como é. É mais ou menos como Ali Babá resolve a partilha com os seus quarenta.  Tudo ali, na escuridão da caverna. A imprensa patronal presente e calada, o tesoureiro contra a parede e a partilha feita sigilosamente. “Fecha-te Sésamo”. Tudo ali escondido na escuridão da caverna.




DEZ FALSOS MOTIVOS PARA NÃO VOTAR NA DILMA


Por Jorge Furtado

Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.

Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)

Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalização do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.

Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes:

1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. 

Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.

2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. 

Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. 

A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Neto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.

3. “Dilma não é simpática”.
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.

4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.

5. “Dilma foi terrorista”.
Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. 

José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de sequestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.

6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano”.
Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.

7. “Serra vai moralizar a política”.
Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista – no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC – foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. 

Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.

8. “O PT apóia as FARC”.
Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalizaçã o e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinaçã o dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?

9. “O PT censura a imprensa”.
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.

10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.


domingo, 10 de outubro de 2010

LULA, LIBERDADES DE IMPRENSA E DE OPINIÃO X IMPRENSA FASCISTA

MARIA RITA FOI DEMITIDA DO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, LOGO EM SEGUIDA À PUBLICAÇÃO DESTE ARTIGO.


A desqualificação do voto do pobre

Maria Rita Kehl

Este jornal [O Estado de São Paulo] teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República.  As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense.  A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

(02/10/2010)


domingo, 3 de outubro de 2010

RETRATOS DE UMA ÉPOCA



O capitalismo, o apogeu da plutocracia, é um sistema econômico estruturado no individualismo competitivo e no livre mercado, para que, em sociedade, a maioria das pessoas passe privações, viva em dificuldade, na pobreza e na miséria, muitos sobrevivendo e morrendo como animais doentes e famintos, para que a minoria ostente alto padrão de vida e riqueza acumulada. Isso é nada mais nada menos do que o terrorismo do capital.

Uma função do Estado capitalista, nos países pobres, é manter a maioria da população na mais completa alienação e ignorância, tornando-a incapaz de avaliar o seu papel de cachorro na sociedade dos ricos, difundindo a ilusão de que a boa vida deles é acessível a qualquer pessoa, como a sorte grande numa pequena loteria. E isso se sustenta, porque o pobre, em geral, e especialmente o pobre de classe média fazem o  faz o jogo dos ricos, submete-se à espoliação porque pensa que um dia vai deixar de ser boi para ser ferrão (instrumento de manejo de gado usado para tocar os animais na direção do matadouro).

No mundo capitalista, a ambição da minoria rica por lucros crescentes esgota recursos naturais, devasta o meio ambiente e provoca, ciclicamente, crises financeiras globais. Por isso, a outra prioritária providência do Estado terrorista do capital é promover guerras, a qualquer custo, que revigoram a economia capitalista de suas graves crises sistêmicas. Assim, em 1963, o estado terrorista foi hábil para assassinar sucessivamente o presidente John Kennedy, em fim de mandato, e o seu irmão Robert Kennedy, o virtual sucessor, porque ambos estavam firmemente empenhados em acabar com a guerra. E com a mesma eficiência o Estado terrorista norte americano forjou, em 2001, o auto ataque de 11 de setembro, para justificar a guerra contra o Iraque pelo controle da segunda maior reserva de petróleo do mundo.

Em suma, o sistema capitalista é a venerada instituição ferozmente protegida pelo Estado terrorista do capital. Consequentemente, nas sociedades capitalistas, quem for ativista do individualismo solidário e luta para buscar o bem comum, justiça e igualdade social é massacrado ou é cooptado pelo sistema.

Em 1964, o governo norte americano intervencionista conspirou abertamente contra a democracia brasileira, porque João Goulart, vice-presidente eleito pelo voto popular e reconduzido à presidência da república, em plebiscito, recusou-se a vetar a lei de remessa de lucros para o exterior, aprovada pelo congresso nacional.

Cooptada pelo capitalismo internacional, as forças armadas brasileiras deram o golpe de estado que depôs o presidente constitucionalmente eleito e instituíram a fase militar brasileira da ditadura do capital externo, para assegurar aos capitalistas globais, valiosas compensações, visando anular os efeitos práticos dessa lei soberana, e continuar atraindo investimento estrangeiro espoliativo. Entre outras ações terroristas, a ditadura do capital impôs o fim da estabilidade do operário brasileiro no emprego - que é a legalização da criminosa possibilidade da demissão sem justa causa, ou imotivada - juntamente com o arrocho salarial e a impunidade seletiva, esta para remunerar os mercenários colaboradores civis e militares da ditadura.

Naqueles dias de chumbo, quem lutou e deu a própria vida pela volta da democracia e pelo estado democrático de direito, contra esse massacre da população e da família brasileira, foi covardemente perseguido, teve seus direitos políticos cassados, foi caçado como bicho, preso e torturado ou assassinado, como foram Miguel Arraes, Dilma Roussef, Lamarca, Marighella, Herzog e tantos outros heróis brasileiros da democracia e da dignidade humana, ou foram cooptados pelo sistema, como ACM, FHC - que chegou a implorar para o povo esquecer tudo o que ele havia escrito, antes de revelar a sua verdadeira personalidade neoliberal elitista - e o repetidamente derrotado candidato presidencial José Serra.

Lembro bem da carreira política de um então aprendiz de oligarca, casado com uma parente de cacauicultores falidos, vivendo em dificuldades financeiras com a sua família, na época em que foi nomeado prefeito da capital e logo depois governador biônico do Estado, província que passou a ser sua. Ao deixar o primeiro mandado no governo do Estado, já oligarca formado, malvado e milionário, um diligente auditor fazendário apurou que, após a liquidação do contrato de câmbio, a doação de 15 milhões de dólares do governo norte americano para o departamento estadual de estradas simplesmente desapareceu no ar e nunca chegou ao seu pretenso destino, que seria o tesouro estadual.

Comunicado o fato ao ilustre sucessor biônico, este mandou instaurar o competente inquérito e seguiu para Brasília com as provas do crime do seu antecessor. Lá, na capital da ditadura, o governador biônico manteve o seguinte diálogo com o general ditador:

- Quem nomeou o seu antecessor, senhor governador?, indagou o ditador, que atendia pela alcunha de presidente.

- A “Revolução”, senhor presidente, respondeu o governador.

- E quem nomeou vossa excelência governador do Estado? , insistiu o ditador.

- A “Revolução”, senhor presidente.

- Então vossa excelência acha que esse inquérito deve chegar ao conhecimento da justiça e se tornar munição para os inimigos da “Revolução”?

- Absolutamente, senhor presidente, respondeu o novo governador.

- Então, senhor governador, queime esse inquérito e se isso lhe trouxer constrangimentos, eu aceito a sua demissão agora e nomeio outra pessoa para assumir cargo e dar um fim a essas provas, finalizou, impaciente, o ditador.

Com o mesmo caráter de hipocrisia deslavada, na atual campanha presidencial, uma revistinha semanal da imprensa patronal golpista, na desesperada tentativa de alavancar o desempenho do seu candidato, em humilhante desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, estampou na capa uma foto de Dilma Rousseff, confiscada dos porões da ditadura, para passar aos eleitores menos esclarecidos e mais desinformados a ideia de que o passado de militância política da candidata, na luta armada contra a ditadura de 1964, é uma mancha perigosa em seu currículo.

Essa hipocrisia da imprensa patronal golpista é a mesma usada pelos atuais candidatos neoliberais elitistas, que hoje se dizem lutar pela democracia e pelo estado democrático de direito e que ficam chocados com vazamentos de sigilo fiscal e estarrecidos com a corrupção, mas cujos partidos, e a classe a que representam, apoiaram incondicionalmente a sangrenta ditadura militar, com outros nomes e outras siglas, e foram regiamente pagos por esse serviço, com verbas públicas e com facilidades para fraudar licitações e abastecer contas pessoais em paraísos fiscais.

A maioria deles, com filhos, filhas, noras, genros, netas e netos, vazados ou não vazados, mas garantidos com a impunidade das pastas rosa¹ e por amigos no supremo tribunal, ostentam a riqueza de possuir bens suntuosos e patrimônios colossais.


¹ Pesquisem pasta rosa no Google, especialmente o boletim da liderança do PT na Bahia, que transcreve alguma coisa do que foi publicado na imprensa patronal.