terça-feira, 12 de outubro de 2010

TRANSPARÊNCIA





Pode-se falar qualquer coisa positiva ou negativa da pessoa de José Serra e dizer muito mais ainda do candidato José Serra. Aqui mesmo, em alguns momentos, nós vamos adjetivar o seu caráter. Porém, pelo menos uma coisa dita é certa: José Serra não é nada bobo, pelo contrário esse tucano é danado de esperto. Foi de esquerda e lutou pelos menos favorecidos, quando isso trazia bons dividendos políticos, Depois, com esse cacife acumulado, se ofereceu para ser cooptado pelo sistema neoliberal, tornando-se por aqui o mais eficiente facilitador da ação do capital espoliativo internacional, quando isso passou a garantir-lhe bons dividendos monetários ou espirituais. Nunca se sabe.

Fazemos essas superficiais considerações a propósito de um incidente acontecido no debate da Bandeirantes, no último domingo, e que passou despercebido por muita gente.

Em dado momento da acalorada discussão, Serra, exibiu o seu caráter, vingativo, violento, imprudente e impulsivo, atacando, com sorrisos irônicos e tom de voz cordial, a honra de Dilma Rousseff, ao ressaltar o fato da proximidade e intimidade da candidata com aquela a quem a imprensa patronal já sentenciou como responsável pelo desvio de verbas públicas, na função inicial de braço direito de Dilma e depois de Ministra Chefe da Casa Civil do governo Lula.

Obviamente, naquele instante, Serra oferecia aos eleitores uma explosiva acusação formal de cumplicidade de Dilma no crime de Erenice.

Com a fibra, a serenidade e a coragem de uma mulher de ferro, talhada para ser uma grande estadista - à altura de Lula - Dilma retrucou energicamente - como deve ser conduzida a defesa da honra - que o fato de estar próxima a um suposto criminoso não significa necessariamente cumplicidade. E citou como exemplo um tal amigo e tesoureiro da campanha de Serra, que teria fugido  com 4 milhões de reais.

Emblemático nesse incidente do debate não foi o fato de Serra ter ficado pálido e depois mudo, sem explicar o golpe do seu tesoureiro e sem tocar mais no assunto. E por que não? Ai é que vem a esperteza de Serra. Esse incidente trouxe à tona no debate a questão da TRANSPARÊNCIA, e transparência é a última coisa que o PSDB de Serra e FHC e o DEMO de ACM e Cia querem discutir. E porque não discutir? Porque é exatamente no quesito da transparência onde está a grande diferença entre o jeito Lula de ser e o modo do PSDB governar.

Nunca soubemos dessa fuga de groselha do caixa da campanha de Serra. A imprensa patronal, caso o tenha feito, se chegou a divulgar uma notinha sobre o fato, foi uma notinha tão pequenininha, mas tão pequenininha, que nem chegou ao nosso conhecimento. Quem soube dessa fuga milionária do parceiro de Serra, antes da revelação de Dilma? Talvez muito pouca gente. Isso não se tornou reportagem de capa, nem pauta assídua dos telejornais.

Com sua manjada pose de mercador elitista e com toda hipocrisia e desfaçatez que caracterizam a sua classe, o tucano Serra está vendendo aos eleitores brasileiros a ideia de que corrupção e roubalheira só não aconteceram no Brasil durante o governo da coligação dele e de FHC com o DEM de ACM.

Serra insiste em ressaltar que a corrupção brasileira foi retomada e chegou ao seu auge agora no governo Lula. E que a grande mudança a ser conquistada pelo voto será fazer o Brasil voltar a ser governado por ele e FHC, os guardiões da ética e da moralidade abaixo do equador.

Mas o povo sabe que corrupção e roubalheira são vírus altamente contagiosos de cima para baixo, infestados no DNA da elite dirigente do país, desde a invasão europeia, em 1500.  

Nesse tempo todo de Brasil, a bandalheira só não esteve de mãos dadas com a impunidade durante o governo de Lula.

Nos oito anos de FHC e Serra, todas as denúncias de corrupção eram engavetadas, sem investigação. Nada se apurava. Cega, surda e muda, a imprensa patronal não sabia de nada. A Polícia Federal vivia com uma cestinha de barbante pescando pequenos mariscos, nas praias da periferia.

A grande mudança de fato, a principal diferença entre os governos de FHC/Serra e o de Lula/Dilma, é que, pela primeira vez na nossa história, hoje, qualquer denúncia é apurada rigorosamente. “Doa em quem doer”, como dizia um outro ilustre Fernando, em portunhol castiço. No governo de Lula, a punição deixou de ser seletiva. A polícia investiga tanto aliados como adversários do governo, buscando provas do delito denunciado. Não mais se arquivam denuncias por falta de provas, sem prévia investigação. Depois, oferecidas as provas, a justiça faz a sua parte.  Faz?

Enquanto isso, o modo do PSDB e DEMO governar nós já sabemos como é. É mais ou menos como Ali Babá resolve a partilha com os seus quarenta.  Tudo ali, na escuridão da caverna. A imprensa patronal presente e calada, o tesoureiro contra a parede e a partilha feita sigilosamente. “Fecha-te Sésamo”. Tudo ali escondido na escuridão da caverna.




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