quarta-feira, 17 de outubro de 2012

As nossas mãos de Pilatos.



A Justiça Federal autorizou o despejo de 170 índios Guarany-Kaiowá de suas terras em Pyelito Kue Mbrakay, região de Navirai, Mato Grosso do Sul, em proveito de ruralistas do agronegócio, que vão depredar ainda mais o meio ambiente, derrubar florestas, exterminar animais silvestres, envenenar o solo, os alimentos e os mananciais.

Como ensinam os sertanistas e o saudoso antropólogo Darcy Ribeiro, essa violência vai provocar a morte de toda a população despejada e causar mais contaminação cancerígena por agrotóxico, para quem continuar vivo, como revela o relatório anual do Instituto Nacional do Câncer.

Certamente essa decisão da Justiça Federal não foi tomada por um juiz da estirpe de Joaquim Barbosa, mas por um juiz, ou por uma corte formada por magistrados grampeados por Daniel Dantas, aliado da usurária e retrógrada elite ruralista.

A grande mulher Lina Bo Bardi disse quefalta ao Brasil a violência popular de base, que prenuncia as mudanças em um país”. Isso foi dito num contexto em que a população ativa, consciente, corajosa, democrática e legalista estava sendo torturada e dizimada pela ditadura militar.

Hoje, no bojo de uma ditadura civil neoliberal, um pouco mais branda em termos de violência física, podemos continuar concordando com essa talentosa arquiteta do belo e dizer que falta ao Brasil a ativa mobilização popular de base, que prenuncia as mudanças em um país.

Vítimas de nossa própria ambição pessoal, ambição sempre egoísta, dominados pela usura e pela ganância, vivemos com a consciência adormecida num conceito evangélico de compaixão, que significa sentir-se melhor, mais afortunado, mais abençoado do que os que sofrem, ser solidário e ajudar tendo pena e dando esmolas.

Mas isso não é compaixão, é oportunismo. Compaixão é sentir-se igual ao outro, nem melhor, nem pior do que ninguém, dar as mãos aos que sofrem e caminhar com eles para longe do sofrimento.

Exatamente como fazem alguns de nossos irmãos judeus, no Estado de Israel, os poucos não contaminados pelo vírus do nazismo, que se mudam de mala e cuia para casas de palestinos, em Jerusalém, e passam a morar com eles, para impedir que a SS de Israel os despeje de suas casas.

Vou de mochila e barraca visitar os índios Guarany-Kaiowá e passar um tempo possível com eles, às margens do rio Hovy.

Quero que minha consciência desperte com o amanhecer da floresta, no colo de uma velha índia, como a minha mãe Dodó, que me ensinou a ser gente e muito diferente das pessoas sem amor e sem saúde, acima do peso, deformadas, barrigudas, estressadas, que vejo passando pelas ruas e frequentando igrejas, para implorar milagres e fazer caridade, dando esmolas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário