quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Alma feminina




Tenho a alma feminina, o que me dá muitos privilégios e alguns mal entendidos.

Não nasci há 10 mil anos atrás, mas numa época semelhante, em que o macho só podia ser homem, tinha que ser homem, havia de ser cabra macho e ser cabra macho significava comer, ou relatar que comia, todas as mulheres que aparecessem em sua frente e se o ser masculino não desse para cabra macho, então era viado e  levava pedrada.

Até hoje me parece que o falecido e querido cabra macho do meu pai comia mesmo todas as mulheres, das patroas às empreguetes, gula que não era fiel nem ao tom da pele, muito menos à beleza e essa infidelidade conjugal deixava a minha alma feminina em polvorosa.

Essa questão foi o principal mal entendido que me seguiu pelo caminho, como uma sombra que transcendia todas as luzes; solar, lunar, elétrica e até a luz cósmica, ou divina. E era para o meu corpo franzino uma sombra mais escura e mais ameaçadora do que a própria escuridão.

Isso tudo, porque, diante de tudo isso, eu sempre gostei de cozinhar e fiz uma jura de amor a mim mesmo que só comeria a mulher com que me casasse e comeria somente a ela. Cumpro a jura da fidelidade até hoje e tenho orgulho de jamais ter beijado uma boca que não fosse a de minha companheira.

Mas a questão central de minha vida não era a minha virgindade como um fato maior do que a afronta de não ir às bacanais promovidas e patrocinadas pelo meu cabra macho paterno, o que fez minha abstinência copular atravessar toda a infância, a adolescência inteira, até chegar ao seu maravilhoso fim, diante da então mulher da minha vida, aos 23 anos de idade.

O agravante da minha viadagem era o meu gosto pela cozinha, Desde pequeno o meu melhor prazer era ver minha mãe ensinar às curicas como se faz pato no tucupi, tacacá, casquinha de mussuã, escabeche de peixe do jeito francês e as outras suas delícias culinárias, que fizeram os jantares lá de casa virarem lenda.

Saia daí seu moleque sem vergonha, que cozinha é lugar de mulher”, dizia meu pai, com toda raiva possível, felizmente raiva mais pesada do que o seu braço e mais afiada do que o seu cinturão.

Mesmo assim, ainda hoje não existe nada que me dê mais prazer do que cozinhar, principalmente quando tenho a chance de cozinhar para minhas filhas e ver Júlia fotografando os pratos prontos e despejando o seu colorido na internet.

Quando cozinho e me concentro nos afazeres do fogão, baixam em mim os espíritos de cozinheiras maravilhosas, que além de ensinar o que não sei, dão ótimas sugestões do que fazer.

A mais querida alma das minhas cozinheiras visitantes é Dona Lete, uma mulher maravilhosa, nascida numa região do vale do Rio São Francisco, onde seu pai, macho e rico, plantou roças admiráveis de cacau. A fortuna da família de Dona Lete atraiu a usura de um homem charmoso, cabra sabidamente muito macho e envolvente, que não podia mesmo ser mais nada na vida, a não ser marido de mulher rica e político profissional.

O espírito de Dona Lete me chegava na cozinha com o semblante sofrido, carregado, mas depois do primeiro prato, encaminhado com muita perícia, ela libertava o seu lindo sorriso, desconhecido das outras pessoas.

Nos primeiros meses do ano de 2003, no comecinho do governo da esperança que venceu o medo, logo que percebi que fui mais um eleitor enganado e vi que a matriz política desse novo governo dos supostos trabalhadores é a mesma matriz plutocrática colonial dos governos anteriores, desde o ano de 1500, num desabafo, escrevi a letra de uma música chamada Plutocracia, ainda inédita e atual aqui no Brasil. Luciano Vasconcelos compôs a música e fez os arranjos de Plutocracia para a banda Navio Negreiro, banda e música que, em 2004, foram ovacionadas por delirantes plateias europeias.

A música Plutocracia é um prato cheio, apetitoso, que também foi preparado pela inspiração de minha querida colega cozinheira Dona Lete.

PLUTOCRACIA
Essa música é o Brasil mostrando a sua cara como Cazuza pediu e se chama
Plutocracia,
que quer dizer governo dos mais ricos, pelos  mais ricos e para os  mais ricos
Ela trata de delinquentes que se tornaram gordos políticos,
mamando nas tetas do governo e que estão sempre no governo,
como abutres na carniça. 
A música também fala do amor incondicional de Dona LETE.
Dona LETE, é honesta, batalhadora, mas submissa à infelicidade de ser casada com um desses ratos do erário.
Dona LETE é traída, humilhada e explorada publicamente
pelo seu gordo marido
e continua sendo sua fiel e resignada mulher.
Dona LETE é a metáfora do povo brasileiro.
O povo brasileiro está para a PLUTOCRACIA
assim como dona LETE está para o seu gordo rato.

Estou com medo do governo
Da esperança que venceu o medo

Pilham os ricos a riqueza
Grampeiam a dignidade
Avançam no dinheiro
Da comunidade
E tome-lhe impunidade

Reforma na previdência
Povo manso e azarado
Garfo na privatização
Propina é dinheiro para deputado

Tudo isso é indecência
Pra dar lucro a banqueiro
Boa vida a estrangeiro
O povo morrendo de fome
E viva o povo brasileiro

Brasil:
Futebol, carnaval, cocaína, jogatina, cachaça e confete
E no coração do povo
O mesmo amor incondicional de dona Lete.

Aqui em baixo
A violência corre solta
Pois a miséria só aumenta
Fome zero é uma piada
Um conto da carochinha
Diante desses políticos
Beira Mar é trombadinha

Reforma na previdência
Povo manso e azarado
Garfo na privatização
Propina é dinheiro para deputado

Olhe o suingue da plutocracia:

Executivo:
Entreguismo e corrupção

Judiciário:
Caixa preta de ladrão

Parlamento:
Feira de voto e grampo ilegal,
Meu irmão

Tudo isso é indecência
Pra dar lucro a banqueiro
Boa vida a estrangeiro
O povo morrendo de fome
E viva o povo brasileiro

Brasil:
Futebol, carnaval, cocaína, jogatina, cachaça e confete
E no coração do povo
O mesmo amor incondicional de dona Lete.










Nenhum comentário:

Postar um comentário