Estão espalhando pela
mídia eletrônica um artigo de Nelsinho Mota tratando do Mensalão. Uma querida
amiga, bem instruída, muito viajada e inteligentíssima, empolgada com esse
artigo, está distribuindo na rede uma cópia, digitada com letras enormes,
taxando-o de perfeito.
Nem tão perfeito
assim, minha querida.
No início de 1964, um lampejo de
honestidade, patriotismo e soberania do Congresso Nacional aprovou a Lei de
Remessa de Lucros para o Exterior, que inviabilizava a farra feita por
especuladores internacionais, que relocavam no Brasil fábricas totalmente
depreciadas e sucateadas em seus países, para produzir mercadorias de quinta e
cobrar do brasileiro preços de primeira. Automóveis inclusive, ou Carroças como
Fernando Collor a eles se referia.
Pela lei então em vigor, todo o
lucro fantástico, obtido com essa exploração, era enviado livremente para o
exterior. Eram os tempos negros das veias abertas da América Latina, antes de
Lula, Chavez, Kirchner, Evo Morales e Fidel, quando a grande maioria do povo estava
desempregada, marginalizada, e os operários assalariados recebiam salário de
fome. Nossa riqueza era transformada em dólares e remetida livremente para o
exterior.
Washington tentou de toda maneira
comprar o veto de Jango Goulart a essa lei aprovada no Congresso. Ofereceu ao
país a doação de uma fortuna, dinheiro mais que suficiente para Jango realizar
todas as reformas de base e tirar o país do atraso econômico e social, que
tanto agrada a burguesia urbana e ruralista.
Jango ficou indeciso, mas Brizola
o convenceu a sancionar a lei. Ao sancioná-la, Jango disse em alto e bom som que
ao assinar essa lei libertária, ele estava assinando também a sua sentença de
morte. A lei foi sancionada em fevereiro de 1964 e em primeiro de abril desse
mesmo ano, depois de muita agitação encomendada, Jango, presidente eleito pelo
voto democrático, foi deposto pelas forças armadas, com o luxuoso auxílio da
esquadra norte americana, de prontidão em águas territoriais brasileiras. Nesse
dia, o Brasil tinha uma dívida externa de 3 bilhões de dólares.
Os generais assumiram o poder,
mas tiveram medo e vergonha de revogar essa lei legítima. Então os seus
assessores civis estrangeiros bolaram um meio de burlar a nova lei. A empresa
estrangeira, em vez de investir diretamente no país, na montagem das fábricas
sucateadas, depositava o seu dinheiro em bancos no exterior e simulava um
empréstimo para suas subsidiárias no Brasil. Então, em vez da remessa de
lucros, agora restrita a 16% ao ano, a subsidiária brasileira remetia todo o
lucro em forma de pagamento de juros e do principal da falsa dívida
"contraída" no estrangeiro. Dessa forma, a nossa dívida externa que
era de 3 bilhões de dólares, em menos de 5 anos subiu para mais 90 bilhões.
Estava então lançada a pedra fundamental do nosso Mensalão, que ainda não era
para comprar voto parlamentar, porque estávamos em plena ditadura. Isso tudo
foi feito pelo time de ACM, FHC, Serra, Jader Barbalho, Maluf e Cia.
Com a queda da ditadura, o
esquema passou a ser usado para a compra de voto parlamentar e foi muito
eficiente na votação do segundo mandato de FHC e nas eleições do governo
elitista pelo país afora, esquema sempre coordenado por Marcos Valério, homem
de confiança do PSDB mineiro.
PSDB e Arena, depois PDS, depois,
PFL, depois DEMO, acreditavam que, graças a essa maravilhosa herança maternal
da ditadura, iriam ficar eternamente no poder e continuaram confiantes com a
política neoliberal de massacrar o povo em proveito das elites.
Mas eles não contavam que o povo
acabasse com essa farra monumental e elegesse um torneiro mecânico analfabeto
funcional para presidente do país, derrotando o elitista, poderoso e erudito
time de FHC, Serra, Sarney, Luiz Eduardo e ACM.
No governo, Lula inventou o
neoliberalismo populista, deu esmola aos mais necessitados, tirou milhões e
milhões de eleitores da linha da miséria e da pobreza, fortaleceu a economia
interna, aumentou o lucro dos banqueiros e dos empresários competentes, obtendo
índices de popularidade jamais vistos no país.
Enquanto Lula fazia a sua
política imbatível, a gang de José Dirceu e Genoíno cooptava a gang de FHC,
Brindeiro e Serra e mantinha Marcos Valério como o operador do esquema, em
razão do seu grande conhecimento e prática do assunto.
Isso o dandi Nelsinho Mota não
sabe, não estudou, ou omite deliberadamente, como o faz toda a mídia patronal.
Caso queira saber mais sobre esses
fatos, leia o livro Jango Goulart, as reformas sociais no Brasil, escrito pelo professor Moniz Bandeira.
Esse livro, obviamente, só é
encontrado no sebo.
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