A Justiça Federal autorizou o despejo de 170
índios Guarany-Kaiowá de suas terras em Pyelito Kue Mbrakay, região de Navirai,
Mato Grosso do Sul, em proveito de ruralistas do agronegócio, que vão depredar
ainda mais o meio ambiente, derrubar florestas, exterminar animais silvestres,
envenenar o solo, os alimentos e os mananciais.
Como ensinam os sertanistas e o saudoso
antropólogo Darcy Ribeiro, essa violência vai provocar a morte de toda a
população despejada e causar mais contaminação cancerígena por agrotóxico, para
quem continuar vivo, como revela o relatório anual do Instituto Nacional do
Câncer.
Certamente essa decisão da Justiça Federal não
foi tomada por um juiz da estirpe de Joaquim Barbosa, mas por um juiz, ou por
uma corte formada por magistrados grampeados por Daniel Dantas, aliado da
usurária e retrógrada elite ruralista.
A grande mulher Lina Bo Bardi disse que “falta ao Brasil a violência popular de base,
que prenuncia as mudanças em um país”. Isso foi dito num contexto em que a
população ativa, consciente, corajosa, democrática e legalista estava sendo
torturada e dizimada pela ditadura militar.
Hoje, no bojo de uma ditadura civil neoliberal, um
pouco mais branda em termos de violência física, podemos continuar concordando
com essa talentosa arquiteta do belo e dizer que falta ao Brasil a ativa
mobilização popular de base, que prenuncia as mudanças em um país.
Vítimas de nossa própria ambição pessoal, ambição sempre
egoísta, dominados pela usura e pela ganância, vivemos com a consciência
adormecida num conceito evangélico de compaixão, que significa sentir-se
melhor, mais afortunado, mais abençoado do que os que sofrem, ser solidário e
ajudar tendo pena e dando esmolas.
Mas isso não é compaixão, é oportunismo.
Compaixão é sentir-se igual ao outro, nem melhor, nem pior do que ninguém, dar
as mãos aos que sofrem e caminhar com eles para longe do sofrimento.
Exatamente como fazem alguns de nossos irmãos
judeus, no Estado de Israel, os poucos não contaminados pelo vírus do nazismo,
que se mudam de mala e cuia para casas de palestinos, em Jerusalém, e passam a
morar com eles, para impedir que a SS de Israel os despeje de suas casas.
Vou de mochila e barraca visitar os índios
Guarany-Kaiowá e passar um tempo possível com eles, às margens do rio Hovy.
Quero que minha consciência desperte com o
amanhecer da floresta, no colo de uma velha índia, como a minha mãe Dodó, que
me ensinou a ser gente e muito diferente das pessoas sem amor e sem saúde,
acima do peso, deformadas, barrigudas, estressadas, que vejo passando pelas
ruas e frequentando igrejas, para implorar milagres e fazer caridade, dando
esmolas.
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