O hipócrita, o cínico ou a mesma pessoa com essas duas qualidades, para alcançar os seus objetivos, todos esses espertalhões apostam na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória de suas vítimas.
Muitos não se lembram de que a política intervencionista dos Estados Unidos robusteceu-se em 1963, após o duplo assassinato do presidente John Kennedy e de seu irmão e virtual sucessor Robert Kennedy, porque eles se comprometeram a acabar com a guerra do Vietnam, contrariando interesses das poderosas indústrias bélicas e de energia. Mas muita gente sabe que as guerras sempre foram a solução do sistema capitalista para acabar com suas arrasadoras crises cíclicas.
No começo de 1964, na crista dessa nova onda intervencionista, o embaixador norte americano Lincoln Gordon tentou um acordo com Jango, o então presidente do Brasil, oferecendo a fundo perdido, ou seja, doando ao país quatrocentos milhões de dólares, tudo que Jango precisava para implementar as reformas sociais de base, a principal meta de seu governo, em troca do veto presidencial à Lei de remessa de lucros para o exterior, recém aprovada pelo Congresso Nacional.
Naquele tempo, os investidores estrangeiros remontavam no Brasil indústrias obsoletas, totalmente depreciadas no país de origem, e auferiam aqui lucros astronômicos, vendendo caro no mercado brasileiro produtos de baixa qualidade. Todo lucro dessas indústrias de capital estrangeiro era remetido livremente para suas matrizes no exterior. Portanto, a nova lei aprovada no congresso viria para acabar com essa farra espoliativa do capital estrangeiro no Brasil.
Um mês após promulgar a lei de remessa de lucros, Jango foi derrubado por um golpe militar, monitorado pela sexta frota naval norte americana, em águas territoriais brasileiras.
Moralmente impedida de revogar a lei de remessa de lucros, a ditadura militar consentiu que as empresas estrangeiras forjassem uma operação triangular com bancos estrangeiros, através da qual simulavam empréstimos de seu próprio dinheiro, para investimentos no Brasil e, dessa forma, os lucros continuavam sendo remetidos livremente ao exterior, como se fossem juros de empréstimos em moeda estrangeira.
O tamanho dessa sangria na economia brasileira pode ser medido pelo fato de que, em menos de 10 anos, a dívida externa de 3 bilhões de dólares, deixada pelo governo Jango, passou para mais de 100 bilhões de dólares.
Mas a traição dos militares ao Brasil não ficou só nesse crime. A ditadura atendeu todas as exigências obscenas do capital estrangeiro espoliativo, eliminando direitos do trabalhador, arrochando salários e cometendo o maior de todos os crimes: a ditadura militar acabou com a estabilidade no emprego do trabalhador brasileiro.
Foi para impedir e reparar esses crimes de lesa pátria; foi para conter esse assalto à nossa soberania; foi para devolver a dignidade ao povo brasileiro e pela volta da democracia e do estado democrático de direito, que alguns patriotas ativistas em prol da garantia dos direitos humanos, como Dilma Rousseff, com coragem e destemor, se insurgiram e lutaram contra a ditadura militar, muitos deles pagando o preço de sua própria vida.
Vinte e quatro anos depois dessa vergonha nacional, durante a assembleia nacional constituinte, surgiu a possibilidade dos deputados e senadores constituintes repararem parte dessa perda sofrida pela nação brasileira, devolvendo ao trabalhador a estabilidade no emprego e outros direitos trabalhistas.
Ex-militante das lutas populares, o deputado constituinte José Serra, cooptado pelo sistema capitalista, defendeu com unhas e dentes os interesses dos espoliadores do país e do povo brasileiro, tendo a seguinte participação na assembleia constituinte de 1988:
a) votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas;
b) votou contra garantias ao trabalhador de estabilidade no emprego;
c) votou contra a implantação de Comissão de Fábrica nas indústrias;
d) votou contra o monopólio nacional da distribuição do petróleo;
e) negou seu voto pelo direito de greve;
f) negou seu voto pelo abono de férias de 1/3 do salário;
g) negou seu voto pelo aviso prévio proporcional;
h) negou seu voto pela estabilidade do dirigente sindical;
i) negou seu voto para garantir 30 dias de aviso prévio;
j) negou seu voto pela garantia do salário mínimo real.
Mais recentemente, durante os oito anos do governo FHC, foi o mais ativo colaborador do capital estrangeiro, promovendo a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, da Companhia Siderúrgica Nacional e de diversas outras empresas rentáveis e estratégicas para a segurança nacional, à preço de banana, mediante pagamento com moeda podre e seguiu se empenhando com sucesso contra reajustes reais do valor do salário mínimo.
Na prefeitura da capital e no governo do estado de São Paulo, continuou governando para a elite, que não sofre para pagar preços abusivos nos pedágios, privatizando o que ainda faltava entregar ao capital privado, e deixou os servidores públicos do estado mais rico do país com um dos mais baixos salários pagos, entre todos os estados do Brasil.
E ainda por cima, fazendo o que a sangrenta, corrupta e covarde ditadura militar teve vergonha de fazer, FHC e Serra, sem o menor pudor, revogaram a Lei de remessa de lucros para o exterior e a Lei Delegada nº 4, promulgada por Getúlio Vargas para coibir com pesadas sanções a prática da usura na formação de preços ao consumidor. Por essa razão, o sistema financeiro e as empresas privatizadas por FHC e Serra ficaram livres e desimpedidas para nos cobrar os maiores preços e tarifas praticadas no planeta.
Agora, durante a campanha presidencial, na ânsia de voltar a servir com a eficiência habitual aos interesses das grandes corporações capitalistas, porque isso deve render alguns bons dividendos espirituais em paraísos fiscais, Serra fica prometendo mundos e fundos aos eleitores, como prometeu, até mesmo chegando ao cúmulo de registrar essa promessa em cartório, de que não deixaria a prefeitura da cidade de São Paulo na metade do seu mandato, para concorrer ao governo do estado e, como se viu, não cumpriu a promessa.
José Serra aposta na falta de informação, na falta de instrução e na falta de memória da maioria do eleitorado, para continuar prestando relevantes serviços às grandes corporações capitalistas e às classes mais abastadas. Sempre contrário aos interesses do país e da maioria dos trabalhadores brasileiros.
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