Tenho a
alma feminina, o que me dá muitos privilégios e alguns mal entendidos.
Não
nasci há 10 mil anos atrás, mas numa época semelhante, em que o macho só podia
ser homem, tinha que ser homem, havia de ser cabra macho e ser cabra macho significava
comer, ou relatar que comia, todas as mulheres que aparecessem em sua frente e
se o ser masculino não desse para cabra macho, então era viado e levava pedrada.
Até
hoje me parece que o falecido e querido cabra macho do meu pai comia mesmo
todas as mulheres, das patroas às empreguetes, gula que não era fiel nem ao tom
da pele, muito menos à beleza e essa infidelidade conjugal deixava a minha alma
feminina em polvorosa.
Essa
questão foi o principal mal entendido que me seguiu pelo caminho, como uma
sombra que transcendia todas as luzes; solar, lunar, elétrica e até a luz
cósmica, ou divina. E era para o meu corpo franzino uma sombra mais escura e
mais ameaçadora do que a própria escuridão.
Isso
tudo, porque, diante de tudo isso, eu sempre gostei de cozinhar e fiz uma jura
de amor a mim mesmo que só comeria a mulher com que me casasse e comeria
somente a ela. Cumpro a jura da fidelidade até hoje e tenho orgulho de jamais
ter beijado uma boca que não fosse a de minha companheira.
Mas a
questão central de minha vida não era a minha virgindade como um fato maior do
que a afronta de não ir às bacanais promovidas e patrocinadas pelo meu cabra
macho paterno, o que fez minha abstinência copular atravessar toda a infância, a
adolescência inteira, até chegar ao seu maravilhoso fim, diante da então mulher
da minha vida, aos 23 anos de idade.
O
agravante da minha viadagem era o meu gosto pela cozinha, Desde pequeno o meu
melhor prazer era ver minha mãe ensinar às curicas como se faz pato no tucupi, tacacá,
casquinha de mussuã, escabeche de peixe do jeito francês e as outras suas
delícias culinárias, que fizeram os jantares lá de casa virarem lenda.
“Saia daí seu moleque sem vergonha, que
cozinha é lugar de mulher”, dizia meu pai, com toda raiva possível,
felizmente raiva mais pesada do que o seu braço e mais afiada do que o seu
cinturão.
Mesmo
assim, ainda hoje não existe nada que me dê mais prazer do que cozinhar,
principalmente quando tenho a chance de cozinhar para minhas filhas e ver Júlia
fotografando os pratos prontos e despejando o seu colorido na internet.
Quando
cozinho e me concentro nos afazeres do fogão, baixam em mim os espíritos de
cozinheiras maravilhosas, que além de ensinar o que não sei, dão ótimas
sugestões do que fazer.
A mais
querida alma das minhas cozinheiras visitantes é Dona Lete, uma mulher
maravilhosa, nascida numa região do vale do Rio São Francisco, onde seu pai, macho e rico, plantou roças admiráveis de cacau. A fortuna da família de Dona
Lete atraiu a usura de um homem charmoso, cabra sabidamente muito macho e
envolvente, que não podia mesmo ser mais nada na vida, a não ser marido de
mulher rica e político profissional.
O
espírito de Dona Lete me chegava na cozinha com o semblante sofrido, carregado,
mas depois do primeiro prato, encaminhado com muita perícia, ela libertava o
seu lindo sorriso, desconhecido das outras pessoas.
Nos
primeiros meses do ano de 2003, no comecinho do governo da esperança que venceu
o medo, logo que percebi que fui mais um eleitor enganado e vi que a matriz
política desse novo governo dos supostos trabalhadores é a mesma matriz
plutocrática colonial dos governos anteriores, desde o ano de 1500, num
desabafo, escrevi a letra de uma música chamada Plutocracia, ainda inédita e
atual aqui no Brasil. Luciano Vasconcelos compôs a música e fez os arranjos de
Plutocracia para a banda Navio Negreiro, banda e música que, em 2004, foram ovacionadas por
delirantes plateias europeias.
A
música Plutocracia é um prato cheio, apetitoso, que também foi preparado pela
inspiração de minha querida colega cozinheira Dona Lete.
PLUTOCRACIA
Essa música é o Brasil mostrando a
sua cara como Cazuza pediu e se chama
Plutocracia,
que quer dizer governo dos mais ricos, pelos
mais ricos e para os mais ricos
Ela trata de delinquentes que se
tornaram gordos políticos,
mamando nas tetas do governo e que
estão sempre no governo,
como abutres na carniça.
A música também fala do amor incondicional de Dona LETE.
Dona LETE, é honesta, batalhadora,
mas submissa à infelicidade de ser casada com um desses ratos do erário.
Dona LETE é traída, humilhada e
explorada publicamente
pelo seu gordo marido
e continua sendo sua fiel e
resignada mulher.
Dona LETE é a metáfora do povo
brasileiro.
O povo brasileiro está para a PLUTOCRACIA
assim como dona LETE está para o
seu gordo rato.
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