O meu querido e saudoso tio Rubem Cerqueira Lima, general
médico do relativamente glorioso exército brasileiro, de quem me lembro já
reformado, passeando seu vistoso pijama pelos cômodos escuros de um antigo
casarão no bairro do Canela, colecionava selos e criava pássaros engaiolados,
que sujavam suas celas, pombos libertos, que cagavam em nossas cabeças, cães
ferozes e uma macaca, acorrentada à sua casa de madeira, que tinha uma porta e
duas janelas e ficava no topo de um poderoso falo, um tronco bem ereto e
roliço, plantado um pouco abaixo do umbigo do quintal. A casa da macaca
lembrava muito a casa do cuco do relógio, que trinava as horas e as meias horas
da parede da sala de jantar.
Tio Rubem e seu pequeno zoológico
ensinaram-me muito do tanto que uso para ser feliz na minha jornada
Mas foi precisamente dessa mais do
que divina macaca de meu tio
general que me vieram as melhores lições, especialmente as de observar muito e
de me expressar com firmeza, exercitar em nome do bem comum a liberdade de
expressão, mesmo quando a prudência indica ser mais seguro guardar o nobre
silêncio. Quanto à meta-divindade da macaca, só duas pessoas observaram e
perceberam esse seu dom supremo, Raulzito e eu.
A macaca mantinha uma permanente expressão
de asco, nojo, revolta e sarcasmo risonho, que subia um tom, quando nos
olhava, e chegava ao apogeu, quando encarava granfinos, que são especializados
em usar, explorar e aprisionar seus bichos, assalariados ou não, para viverem
melhor e terem mais.
Possivelmente, nem as
insuperáveis Sarah Bernhardt, Cacilda Becker, Cleyde Yaconis e Fernanda
Montenegro seriam capazes de repetir a expressão da macaca, na ribalta ou mesmo
fora dela.
Mas o que abalava e traumatizava a
burguesia diante da
macaca, não era a sua inimitável expressão facial, mas o batucar de suas
habilidosas mãos sobre a sua intumescida genitália, numa apocalíptica
masturbação sem fim, como se ela dissesse a todos, “Olha aqui, seus idiotas,
vocês me acorrentam, me escravizam, me impedem de ter um companheiro, mas mesmo
assim eu goso. Goso alucinadamente um orgasmo atrás do outro, enquanto o goso
de vocês, envolto na mentira, é nulo, raro, sujo, ou precário” .
Muitas vezes escutei damas refinadas,
ricamente vestidas e exageradamente enfeitadas, implorar pateticamente aos seus
maridos para que eles não permitissem que o mau exemplo da primata invadisse o
campo visual de seus filhotes.
Hoje, ao ver a mídia patronal, devota do apartheid neo liberal, endeusando uma
blogueira cubana, admiradora da "democracia" capitalista brasileira,
explodiu diante de mim, como um meteoro incandescente, a grande muralha
perversa do esquecimento, que me separava da visão iluminada da macaca de meu
tio.
Antes da blogueira existir, Cuba,
dominada por Washington, era a nação de um povo sofrido, explorado, torturado
por uma enorme desigualdade econômica e social, que não permitia ao povo
oprimido e humilhado a satisfação nem de suas necessidades básicas de
alimentação, educação, assistência médica e moradia, o que mantinha a
maioria dos adultos e das crianças cubanas num estado de miséria e de pobreza
extremas, em meio à corrupção, impunidade para os ricos, tráfico de drogas,
prostituição, como continua sendo até hoje a realidade de todas as demais
“democracias” capitalistas latino americanas e pelo mundo afora.
Com o triunfo da revolução
socialista de 1959, essa
deprimente realidade mudou radicalmente e, apesar do famigerado bloqueio
econômico e de todo tipo de terrorismo de estado imposto pela grande
“democracia” capitalista, em represália à nacionalização das empresas norte
americanas e à extinção da corrupção, do tráfico de drogas, da prostituição e
do jogo, que eram os negócios mais lucrativos dos empresários estrangeiros,
hoje a república socialista bolivariana de Cuba, ostenta um dos melhores
índices de desenvolvimento humano das Américas e pode assegurar gratuitamente à
toda a população, sem exclusões ou diferenças, um dos 15 melhores sistemas de
ensino do planeta, que eliminou o analfabetismo da ilha e forma cientistas e
técnicos da mais alta qualidade; assistência médica e farmacêutica, que é
referência no mundo inteiro; seguridade social digna do cidadão; alimentação de
boa qualidade; emprego; moradia; paz social e soberania, graças à união e
solidariedade dos camponeses, estudantes e trabalhadores cubanos.
E por falar em terrorismo de estado sofrido por Cuba, basta
relembrar os mais esquecidos deles: invasão da Bahia dos Porcos, em 1971;
vários atentados terroristas do governo norte americano contra escritórios
cubanos no exterior, em 1974; assassinato do embaixador cubano no México, num
atentado terrorista realizado pela CIA, que explodiu o carro do embaixador, em
1975; atentado à bomba contra a missão diplomática cubana na ONU, em 1978;
atentado à bomba contra artistas cubanos num evento no Lincoln Center de Nova
York, também em 1978; a CIA desenvolve bactéria para destruir as plantações de
tabaco em Cuba, em 1979; pragas atacam as plantações cubanas de tabaco,
destruindo 90% da lavoura, em 1980; a CIA introduz epidemia de dengue na ilha,
infectando mais de 144 mil pessoas e matando 158 cubanos, na maioria crianças,
em 1981; invasão de Granada por tropas norte americanas, que matam centenas de
cubanos, ocupados na construção de um aeroporto.
Enquanto isso, ou depois disso tudo, os
bombeiros e veteranos civis de 11 de setembro, vitimados por diversas doenças
pulmonares provocadas pela poeira das explosões das torres gêmeas, desenganados
e desassistidos, foram abandonados à própria sorte para morrer na sarjeta, pois
não tinham recursos para pagar o caríssimo tratamento médico na “democracia”
norte americana. O cineasta Michael Moore, então, os levou para Cuba, onde
receberam tratamento médico gratuito e voltaram curados, trazendo a
solidariedade de um povo irmão e remédios que custam 1% do valor que é cobrado
pelo mesmo produto nos Estados Unidos e em todo o mundo capitalista.
Quatro décadas de bloqueio econômico não abalaram a vontade do heróico povo cubano,
nem impediram que Cuba alcançasse grande progresso material coletivo e os mais
elevados índices de desenvolvimento humano e social. As dramáticas
consequências do estúpido bloqueio capitalista à ilha, como o racionamento de
remédios, alimentos, gás, gasolina e outros bens essenciais foram vencidos pela
solidariedade, que fortalece a união entre um governo forte, honesto e os
camponeses, estudantes e trabalhadores.
Penso em como seria o sofrimento do
povo numa
situação dessa gravidade, em tão vasto período, numa “democracia” capitalista,
com governantes, burocratas e parlamentares mensaleiros e propineiros e
empresários ávidos por levar vantagem.
Nas poucas vezes em que uma revolução
socialista foi vitoriosa num país capitalista, a burguesia mal nascida foge
para Miami e os ricos bem nascidos vão para Paris.
Quem ficou em Cuba e não tem uma natureza solidária, não pensa no
bem comum, corrompido que é pelo vírus da ambição pessoal de querer ser e ter
mais do que os outros, conspira contra o regime e não luta contra o bloqueio.
Por uma simples questão humanitária, todos nós,
cubanos e não cubanos, devemos lutar pelo fim do desproposital, desumano e
assassino bloqueio econômico a Cuba.
Enquanto essa blogueira cubana
conspira contra o regime de seu país por aqui, a macaca de tio Rubem
olha para ela e sorri.
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