segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A macaca depravada.



O meu querido e saudoso tio Rubem Cerqueira Lima, general médico do relativamente glorioso exército brasileiro, de quem me lembro já reformado, passeando seu vistoso pijama pelos cômodos escuros de um antigo casarão no bairro do Canela, colecionava selos e criava pássaros engaiolados, que sujavam suas celas, pombos libertos, que cagavam em nossas cabeças, cães ferozes e uma macaca, acorrentada à sua casa de madeira, que tinha uma porta e duas janelas e ficava no topo de um poderoso falo, um tronco bem ereto e roliço, plantado um pouco abaixo do umbigo do quintal. A casa da macaca lembrava muito a casa do cuco do relógio, que trinava as horas e as meias horas da parede da sala de jantar.

Tio Rubem e seu pequeno zoológico ensinaram-me muito do tanto que uso para ser feliz na minha jornada

Mas foi precisamente dessa mais do que divina macaca de meu tio general que me vieram as melhores lições, especialmente as de observar muito e de me expressar com firmeza, exercitar em nome do bem comum a liberdade de expressão, mesmo quando a prudência indica ser mais seguro guardar o nobre silêncio. Quanto à meta-divindade da macaca, só duas pessoas observaram e perceberam esse seu dom supremo, Raulzito e  eu.

A macaca mantinha uma permanente expressão de asco, nojo, revolta e sarcasmo risonho, que subia um tom, quando nos olhava, e chegava ao apogeu, quando encarava granfinos, que são especializados em usar, explorar e aprisionar seus bichos, assalariados ou não, para viverem melhor e terem mais.

Possivelmente, nem as insuperáveis Sarah Bernhardt, Cacilda Becker, Cleyde Yaconis e Fernanda Montenegro seriam capazes de repetir a expressão da macaca, na ribalta ou mesmo fora dela.

Mas o que abalava e traumatizava a burguesia diante da macaca, não era a sua inimitável expressão facial, mas o batucar de suas habilidosas mãos sobre a sua intumescida genitália, numa apocalíptica masturbação sem fim, como se ela dissesse a todos, “Olha aqui, seus idiotas, vocês me acorrentam, me escravizam, me impedem de ter um companheiro, mas mesmo assim eu goso. Goso alucinadamente um orgasmo atrás do outro, enquanto o goso de vocês, envolto na mentira, é nulo, raro, sujo, ou precário” .

Muitas vezes escutei damas refinadas, ricamente vestidas e exageradamente enfeitadas, implorar pateticamente aos seus maridos para que eles não permitissem que o mau exemplo da primata invadisse o campo visual de seus filhotes.

Hoje, ao ver a mídia patronal, devota do apartheid neo liberal, endeusando uma blogueira cubana, admiradora da "democracia" capitalista brasileira, explodiu diante de mim, como um meteoro incandescente, a grande muralha perversa do esquecimento, que me separava da visão iluminada da macaca de meu tio.

Antes da blogueira existir, Cuba, dominada por Washington, era a nação de um povo sofrido, explorado, torturado por uma enorme desigualdade econômica e social, que não permitia ao povo oprimido e humilhado a satisfação nem de suas necessidades básicas de alimentação, educação, assistência médica e moradia, o  que mantinha a maioria dos adultos e das crianças cubanas num estado de miséria e de pobreza extremas, em meio à corrupção, impunidade para os ricos, tráfico de drogas, prostituição, como continua sendo até hoje a realidade de todas as demais “democracias” capitalistas latino americanas e pelo mundo afora.

Com o triunfo da revolução socialista de 1959, essa deprimente realidade mudou radicalmente e, apesar do famigerado bloqueio econômico e de todo tipo de terrorismo de estado imposto pela grande “democracia” capitalista, em represália à nacionalização das empresas norte americanas e à extinção da corrupção, do tráfico de drogas, da prostituição e do jogo, que eram os negócios mais lucrativos dos empresários estrangeiros, hoje a república socialista bolivariana de Cuba, ostenta um dos melhores índices de desenvolvimento humano das Américas e pode assegurar gratuitamente à toda a população, sem exclusões ou diferenças, um dos 15 melhores sistemas de ensino do planeta, que eliminou o analfabetismo da ilha e forma cientistas e técnicos da mais alta qualidade; assistência médica e farmacêutica, que é referência no mundo inteiro; seguridade social digna do cidadão; alimentação de boa qualidade; emprego; moradia; paz social e soberania, graças à união e solidariedade dos camponeses, estudantes e trabalhadores cubanos.

E por falar em terrorismo de estado sofrido por Cuba, basta relembrar os mais esquecidos deles: invasão da Bahia dos Porcos, em 1971; vários atentados terroristas do governo norte americano contra escritórios cubanos no exterior, em 1974; assassinato do embaixador cubano no México, num atentado terrorista realizado pela CIA, que explodiu o carro do embaixador, em 1975; atentado à bomba contra a missão diplomática cubana na ONU, em 1978; atentado à bomba contra artistas cubanos num evento no Lincoln Center de Nova York, também em 1978; a CIA desenvolve bactéria para destruir as plantações de tabaco em Cuba, em 1979; pragas atacam as plantações cubanas de tabaco, destruindo 90% da lavoura, em 1980; a CIA introduz epidemia de dengue na ilha, infectando mais de 144 mil pessoas e matando 158 cubanos, na maioria crianças, em 1981; invasão de Granada por tropas norte americanas, que matam centenas de cubanos, ocupados na construção de um aeroporto.

Enquanto isso, ou depois disso tudo, os bombeiros e veteranos civis de 11 de setembro, vitimados por diversas doenças pulmonares provocadas pela poeira das explosões das torres gêmeas, desenganados e desassistidos, foram abandonados à própria sorte para morrer na sarjeta, pois não tinham recursos para pagar o caríssimo tratamento médico na “democracia” norte americana. O cineasta Michael Moore, então, os levou para Cuba, onde receberam tratamento médico gratuito e voltaram curados, trazendo a solidariedade de um povo irmão e remédios que custam 1% do valor que é cobrado pelo mesmo produto nos Estados Unidos e em todo o mundo capitalista.

Quatro décadas de bloqueio econômico não abalaram a vontade do heróico povo cubano, nem impediram que Cuba alcançasse grande progresso material coletivo e os mais elevados índices de desenvolvimento humano e social. As dramáticas consequências do estúpido bloqueio capitalista à ilha, como o racionamento de remédios, alimentos, gás, gasolina e outros bens essenciais foram vencidos pela solidariedade, que fortalece a união entre um governo forte, honesto e os camponeses, estudantes e trabalhadores.

Penso em como seria o sofrimento do povo numa situação dessa gravidade, em tão vasto período, numa “democracia” capitalista, com governantes, burocratas e parlamentares mensaleiros e propineiros e empresários ávidos por levar vantagem.  

Nas poucas vezes em que uma revolução socialista foi vitoriosa num país capitalista, a burguesia mal nascida foge para Miami e os ricos bem nascidos vão para Paris.

Quem ficou em Cuba e não tem uma natureza solidária, não pensa no bem comum, corrompido que é pelo vírus da ambição pessoal de querer ser e ter mais do que os outros, conspira contra o regime e não luta contra o bloqueio.

Por uma simples questão humanitária, todos nós, cubanos e não cubanos, devemos lutar pelo fim do desproposital, desumano e assassino bloqueio econômico a Cuba.

Enquanto essa blogueira cubana conspira  contra o regime de seu país por aqui, a macaca de tio Rubem olha para ela e sorri.




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